A vitamina D faz parte de um grupo de nutrientes chamado de lipossolúveis e que, por isso, podem ser estocadas pelo organismo. Ela participa da formação e da manutenção da saúde óssea, e sua deficiência vem se tornando endêmica, de acordo com organizações de saúde de diversos países.
Essa deficiência pode ocasionar, principalmente, problemas ósseos, mas estudos populacionais vem trazendo cada vez mais a suspeita de que o problema pode também estar ligado a doenças autoimunes, cardiovasculares e mesmo a alguns tipos de câncer1.
Assim, devido a esses riscos, a suplementação de vitamina D vem crescendo, em paralelo aos casos de deficiência e insuficiência deste nutriente.
O QUE É A VITAMINA D?
A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel produzida naturalmente pelo organismo a partir de dois fatores:
- Presença de colesterol, que forma a base estrutural da vitamina;
- Exposição à luz solar, que atua na síntese da vitamina D3, ou colecalciferol.
Então, a vitamina D3 é convertida em calcidiol pelo fígado, que então passa por outra modificação, dessa vez nos rins, se convertendo em calcitriol.
O calcitriol, forma ativa da vitamina D, é essencial para a absorção dos minerais cálcio e fósforo, e, consequentemente, para a saúde óssea.
Assim, quando não há uma ingestão ou produção adequada de vitamina D, a absorção de cálcio e fósforo no intestino cai de forma significativa, podendo chegar à 10-15% do total ingerido.
QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE VITAMINA D?
A deficiência em vitamina D, de forma geral, causa o enfraquecimento dos ossos, o que pode ter consequências diferentes, a depender da idade do paciente2:
- Crianças: A deficiência crônica desta vitamina leva ao desenvolvimento de raquitismo, uma vez que a mineralização dos ossos, assim como o desenvolvimento do esqueleto a partir do tecido cartilaginoso, fica prejudicado;
- Adultos: Nesse caso, o que se vê em um quadro de deficiência crônica é a osteomalacia, que é o enfraquecimento dos ossos, que causa um aumento do risco de fraturas.
Outro efeito da deficiência crônica de vitamina D é o aumento da produção do paratormônio (PTH) pelas glândulas paratireoides, com o objetivo de aumentar a reabsorção de cálcio pelos rins. Entretanto, o aumento dos níveis de PTH causa uma maior eliminação de fósforo através da urina, o que acaba provocando a desmineralização óssea.
Desta forma, mesmo esse mecanismo de compensação da deficiência de vitamina D não é suficiente para reverter os danos ósseos causados pelo déficit nutricional, podendo, inclusive, piorá-lo.
FATORES DE RISCO PARA DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D
Apesar da aparente facilidade de se obter vitamina D através da alimentação e da luz solar, a deficiência neste nutriente é bastante comum, principalmente em pessoas com os seguintes fatores de risco:
- Cirurgia de derivação gástrica;
- Obesidade;
- Falta de exposição à luz solar;
- Ter pele mais escura;
- Idade avançada;
- Problemas na absorção de gorduras.
Então, pessoas com um ou mais dos fatores de risco citados muitas vezes recebem a recomendação de utilizar suplementos de vitamina D, de forma a prevenir doenças ocasionadas pela sua deficiência.
EXAMES E VALORES DE REFERÊNCIA PARA VITAMINA D
A medição dos níveis de vitamina D é feita através de uma amostra de sangue, sem a necessidade de jejum na maioria dos laboratórios.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, os valores de referência para exames de vitamina D são:
- Menor do que 10 ng/mL: Deficiência grave;
- Entre 10 e 20 ng/mL: Deficiência leve ou insuficiência;
- Acima de 20 ng/mL: Nível desejável para população saudável (até 60 anos);
- Entre 30 e 60 ng/mL: Nível desejável para grupos de risco;
- Acima de 100 ng/mL: Risco de toxicidade.
Além disso, são considerados grupos de risco:
- Idosos;
- Mulheres grávidas ou que estejam amamentando;
- Pacientes com diagnóstico de raquitismo, osteomalácia ou osteoporose;
- Pacientes com histórico de fraturas recorrentes ou sem explicação adequada;
- Pessoas com hiperparatireoidismo;
- Doenças inflamatórias e autoimunes;
- Doença renal crônica;
- Síndromes de má-absorção (clínicas ou pós-cirúrgicas).
NECESSIDADE DIÁRIA DE VITAMINA D
A necessidade diária de vitamina D varia de acordo com a idade do paciente, e são:
- 0 a 1 ano de idade: 400UI;
- 1 a 13 anos de idade: 600UI;
- 14 a 18 anos de idade: 600UI;
- 19 a 70 anos de idade: 600UI;
- Acima de 71 anos de idade: 800UI;
- Mulheres grávidas e em período de lactação: 600UI.
FONTES ALIMENTARES
De forma geral, frutas, legumes e verduras não são considerados fontes de vitamina D, que, no entanto, pode ser encontrada em boas quantidades em alimentos como:
- Peixes como salmão, atum, arenque e sardinha;
- Gema de ovo;
- Fígado bovino;
- Camarão.
Além disso, o óleo de fígado de bacalhau, vendido em algumas farmácias, também é rico em vitamina D, e foi usado por muitos anos como medicamento para tratar e prevenir o raquitismo em crianças.
SUPLEMENTOS DE VITAMINA D – SÃO IMPORTANTES?
Apesar de já existir consenso sobre a importância de níveis sanguíneos adequados de vitamina D, a sua suplementação ainda é alvo de algumas controvérsias, principalmente no que se refere às doses e aos esquemas posológicos3.
Ainda assim, é possível encontrar diversos suplementos deste nutriente de diferentes marcas, formas farmacêuticas e doses. Ademais, a prescrição da suplementação é comum, uma vez que as consequências dessa deficiência vitamínica são conhecidas e bem embasadas por estudos.
Todavia, dois pontos principais da controvérsia envolvendo a suplementação da vitamina D é o uso indiscriminado e a prescrição de megadoses (acima de 50.000UI, de acordo com algumas fontes), sem a devida comprovação de sua eficácia e com risco aumentado de toxicidade.
TOXICIDADE POR VITAMINA D
Níveis sanguíneos de vitamina D acima de 100 ng/mL são considerados tóxicos, e podem trazer consequências graves para a saúde. Os seus sintomas se devem principalmente à hipercalcemia, devido ao aumento da absorção de cálcio no intestino4. São eles:
- Confusão mental e outros sintomas neuropsiquiátricos;
- Dor abdominal e constipação;
- Náuseas e vômitos;
- Arritmias;
- Aumento da pressão arterial;
- Lesões renais.
Além disso, existe o risco de calcificação vascular, embora mais estudos sobre o assunto ainda precisem ser conduzidos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Lorenzo J, Boente R, Fojón MS. Déficit de vitamina D y obesidad. Endocrinología y Nutrición. 2012. V, 59. N. 6, P. 401-402.
- Deficiencia de vitamina D en los niños y su tratamiento: revisión del conocimiento y las recomendaciones actuales. Pediatrics. 2008. V.66.N.2.P.86-106.
- Galvão LO, Galvão MF, Reis CMS, Batista CMÁ, Casulari LA. Considerações atuais sobre a vitamina D. Brasília Med 2013;50(4):324-332.
- Lim K, Thadhani R. Toxicidade da Vitamina D. J. Bras. Nefrol. 2020. V.42, N.2, P.238-244.