A catapora (ou varicela) já foi uma das doenças mais comuns da infância. É conhecida pela formação de erupções cutâneas por todo o corpo, na forma de pequenas bolhas que posteriormente causam coceira intensa. Também tende a causar febre e mal-estar e demora entre uma e duas semanas para o corpo combater a infecção.
Ela era famosa também por uma característica peculiar: geralmente, só se contaminava por ela uma vez na vida. Após o primeiro contágio, desenvolve-se imunidade completa por toda a vida. Além disso, ela apresenta a tendência a ser muito mais intensa quando desenvolvida durante a vida adulta do que durante a infância. Ser contagiado cedo, portanto, era preferível.
Atualmente, a catapora já não é mais tão comum entre as crianças. Desde 2013, a vacina da varicela faz parte do Programa Nacional de Imunização (PNI), sendo parte da vacina tetravalente, em conjunto com a do sarampo, da caxumba e da rubéola.
A adoção da vacina proporciona uma vantagem considerável em relação à imunização natural no caso da catapora. Embora o contágio previna reinfecções futuras, a recuperação natural não elimina completamente o vírus do corpo. Na verdade, ele se mantém adormecido na medula espinhal, e pode se reativar posteriormente em situações de baixa imunidade.
A reativação do vírus varicela-zóster, causador da catapora, é conhecida como herpes-zóster. O herpes-zóster é caracterizado pela formação de bolhas similares à da catapora, mas de forma mais localizada, sendo acompanhado por dor intensa no local, que pode perdurar após a recuperação.
Felizmente, a herpes-zóster tende a ser facilmente tratável, e dificilmente volta a ocorrer novamente. Discutiremos neste artigo como funciona o tratamento para herpes-zóster e de quebra conheceremos melhor a condição.
Dworkin et al., 2007
O herpes zoster é uma doença dermatomal que não cruza a linha média, exceto onde a representação normal dos nervos segmentares o faz de forma limitada. Em pacientes imunocompetentes, apenas um único dermátomo é tipicamente afetado
Métodos de tratamento para herpes-zóster
O herpes-zóster é uma doença incômoda, mas geralmente não evolui para casos que possam comprometer a vida do paciente, embora em certos casos possa deixar sequelas graves. O tratamento tende a ser simples, quando necessário, e o objetivo é principalmente impedir o desenvolvimento de sequelas, sendo baseado no uso de algum antiviral.
A doença tende a se manifestar apenas situações de baixa imunidade, mas especialmente em pessoas imunocomprometidas. Isso inclui pessoas que apresentam AIDS, com mais de 50 anos, que apresentam algum tipo de câncer ou que utilizam medicamentos imunossupressores regularmente.
O uso da vacina para varicela como método preventivo também pode ser uma boa opção quando possível.
Recuperação natural
Na maioria dos casos, é possível se recuperar do episódio de herpes-zóster naturalmente. A doença tende a desaparecer entre 7 e 10 dias após o início dos sintomas. Porém, em casos de alta debilidade do sistema imunológico, pode se estender por mais tempo.
Caso a causa do episódio de herpes-zóster estendido não seja imediatamente conhecida, ela é o sinal de alerta para a presença de alguma condição grave subjacente não diagnosticada, como a presença de um câncer ou de AIDS, visto que são as principais condições responsáveis por causar uma debilitação nesse nível.
Embora a recuperação natural seja possível, ela não é recomendada. A dor intensa localizada pode perdurar após a cura das lesões caso a recuperação seja lenta ou o tratamento para herpes-zóster seja iniciado muito tarde. Nesses casos, a dor é conhecida como “nevralgia pós-herpética”.
Essa nevralgia pode causar grandes prejuízos à qualidade de vida, e seu tratamento é complexo, envolvendo medicamentos fortes que buscam eliminar a causa da dor, em conjunto com medicamentos para controlar a dor (que podem incluir analgésicos opioides, dependendo da intensidade) e para manejar os efeitos psicológicos, como antidepressivos.
Já foi analisada a possibilidade de utilizar medicamentos corticosteroides para o alívio da nevralgia. Porém, os estudos realizados indicam que eles não apresentam efeito significativo no tratamento para herpes-zóster..
Outras sequelas também são possíveis em certos casos. O herpes-zóster tende a incidir no tronco ou na face. Quando incide na face, pode acometer os olhos ou os ouvidos, especialmente caso incidam próximos a eles ou a sua extensão abranja algum desses órgãos.
Assim, a doença pode prejudicar o funcionamento do olho, causando cegueira, e o funcionamento do ouvido, causando perda de audição.
É possível que se desenvolva também a síndrome de Ramsay Hunt caso afete a região do ouvido. Ela é caracterizada por paralisia de um lado da face e dor intensa, e também pode afetar a audição e causar labirintite. A recuperação tende a ocorrer naturalmente, mas ela pode reincidir posteriormente.
O tratamento com antivirais, portanto, tende a ser a abordagem mais recomendada em caso de dor intensa e do acometimento da face, assim como para pessoas imunocomprometidas em geral.
Tratamento para herpes-zóster com antivirais
É necessário que um médico seja consultado já nos primeiros sintomas do herpes-zóster. Geralmente alguns sintomas já se iniciam antes do surgimento das bolhas, como febre, dor de cabeça e dor no local. Portanto, torna-se difícil ignorar a presença do episódio.
O tratamento deve se iniciar o quanto antes possível. Ele apresenta maior eficácia nos casos em que se inicia em até 72 horas após o aparecimento das bolhas. O antiviral a ser usado depende do nível de imunocomprometimento do paciente.
No caso de considerável imunocomprometimento, geralmente recomenda-se o uso de fanciclovir e valaciclovir, ambos sendo tomados três vezes ao dia por sete dias. Em alguns casos, porém, o tratamento pode ser estendido até que as bolhas se transformem totalmente em crostas.
No caso de menor imunocomprometimento, o aciclovir se torna uma opção também. Porém, tende a ser menos recomendado, visto que os outros dois apresentam melhores resultados e o aciclovir tende a ter um tratamento mais longo e um pouco mais complexo: precisa ser tomado a cada oito horas (portanto, quatro vezes por dia) e o tratamento pode durar até dez dias para adultos.
O valaciclovir e o aciclovir podem, em certos casos, ser administrados para gestantes. Os dados de segurança desses medicamentos para a saúde do feto não são muito conhecidos, ainda que haja mais dados do que para o fanciclovir.
Geralmente não ocorre varicela congênita quando há ocorrência de herpes-zóster por parte da gestante, portanto, a recuperação natural pode ser a melhor opção para garantir a saúde do feto. Porém, em caso de sintomas intensos ou que atinjam a face, podem ser utilizados para garantir a saúde da mãe.
Leia também: O que é imunização? Conheça os diferentes tipos
Vacina contra o herpes-zóster
A vacina contra a varicela é a principal forma de prevenção do herpes-zóster, visto que impede o contágio pelo vírus varicela-zóster e, dessa forma, impede que o vírus se mantenha dormente na medula espinhal.
Porém, caso já tenha ocorrido o contágio por parte do vírus, existe também a possibilidade de receber uma vacina própria para a prevenção do herpes-zóster.
Já existe vacina para o herpes-zóster a certo tempo. A primeira vacina a ser desenvolvida se valia do uso de um vírus atenuado, de forma semelhante à vacina da catapora. Ela se mostrou efetiva, mas o uso de vírus atenuado apresenta a desvantagem de não ser recomendado para pessoas imunocomprometidas, que são as mais afetadas pela doença.
Atualmente, existe uma vacina recombinante, administrada em duas doses. Esse tipo de vacina se vale da produção das proteínas usuais do vírus para induzir uma resposta imune, ao invés de utilizar o vírus em si. Dessa forma, obtém imunidade duradoura sem ser tão perigosa para pessoas imunocomprometidas. Essa tecnologia já é usada com sucesso para a prevenção da hepatite B.
Os estudos já realizados comprovaram a eficácia e segurança da vacina para pessoas imunocompetentes, sendo, por isso, recomendada para as que já apresentem mais de 50 anos. Ainda estão sendo realizados estudos para analisar sua segurança e efetividade em pessoas imunocomprometidas.
Cuidados durante o episódio
É importante ter em mente que o herpes-zóster se trata de uma reativação do vírus. Portanto, o vírus se encontra presente nas bolhas formadas, possibilitando o contágio por parte dele. O contágio não necessariamente leva à ocorrência de herpes-zóster, mas pode causar catapora em pessoas que não foram vacinadas e que nunca tiveram contato com o vírus.
Por isso, durante a ocorrência dos sintomas, deve-se lavar bem as mãos após entrar em contato com as feridas, visando evitar a transmissão do vírus. Pelo mesmo motivo, deve-se cobrir o local afetado com uma gaze após as bolhas começarem a estourar, pois o líquido que formam também pode transmitir o vírus.
Deve-se também buscar manter limpas as regiões lesionadas, especialmente após o estouro das bolhas, para evitar a ocorrência de infecções bacterianas oportunistas.
Sobre o herpes-zóster
Após a infecção pelo varicela-zóster e a ocorrência da varicela, o vírus se mantém dormente na medula espinhal, especificamente em um gânglio da raiz dorsal posterior. Sob condições específicas, especialmente de baixa imunidade, pode ser reativado, induzindo a herpes-zóster.
As chances de incidência da condição são especialmente maiores em pessoas imunocomprometidas, por exemplo, devido ao câncer ou à AIDS, e pessoas que desenvolveram a varicela antes dos 18 meses de idade.
Ainda não se sabe exatamente quais são os mecanismos envolvidos no início e manutenção do estado latente do vírus, nem os mecanismos que induzem sua reativação.
Sendo ativada principalmente devido à baixa imunidade, tende a ser mais comum em pessoas com mais de 50 anos, visto que o sistema imunológico já apresenta certa debilidade, mas pode também atingir adultos e crianças. Estima-se que um terço das pessoas que contraíram catapora acabam desenvolvendo herpes-zóster ao longo da vida.
Em pessoas imunocompetentes, o herpes-zóster dificilmente volta a reincidir, com a reincidência ocorrendo em apenas 4% dos casos.
Sintomas
Os sintomas característicos da doença são a formação de bolhas em uma determinada região do corpo, especialmente no tronco ou no rosto, que se transformam em crostas ao longo da progressão da doença. Normalmente, há recuperação espontânea em até 10 dias.
Dor no local atingido, isto é, nevralgia, é outro sintoma comum, e tende a ser muito intensa. A nevralgia pode se manter presente após a cicatrização das bolhas, especialmente em pessoas que apresentam baixa imunidade, por isso, é recomendado o tratamento para herpes-zóster com antivirais. Geralmente, a dor se inicia antes que apareçam as bolhas.
Outro sintoma característico é a assimetria. A doença só atinge um único lado do corpo. Embora o local atingido possa estender sua área de atuação, tende a se limitar ao lado em que foi originado.
Outros sintomas comuns são dor de cabeça, febre, coceira e formigamento. Caso acometa o tronco, pode ser acompanhada de problemas gastrointestinais. No rosto, pode também comprometer o funcionamento da visão e da audição.
Diagnóstico
O diagnóstico é normalmente clínico, isto é, baseado nos sintomas presentes. O principal sintoma utilizado para o diagnóstico é a presença das bolhas em conjunto com a dor no local. Porém, em certos casos, é possível realizar o diagnóstico com base apenas na dor causada, visto que apresenta características únicas.
O herpes-zóster também pode, em certos casos, ser confundido com um episódio grave de herpes simples. Em pessoas imunocomprometidas, a herpes simples também pode ocasionar a formação de lesões por grandes extensões, mesmo fora da região da boca e da genitália, e as lesões formadas são semelhantes às da herpes-zóster, especialmente nos estágios iniciais.
Nesses casos, pode ser realizado algum teste para descartar a hipótese de herpes simples. Pode ser realizado o teste de Tzanck, teste por cultura do vírus, PCR ou detecção de antígeno por biópsia.
Conclusão
O herpes-zóster é uma doença causada pelo vírus varicela-zóster, o mesmo vírus da catapora, que se mantém dormente na medula espinhal após a ocorrência dessa doença.
Em situações em que o corpo apresenta uma janela de baixa imunidade, o varicela-zóster pode ser reativado, causando a formação de bolhas semelhantes à da catapora em determinada região do corpo, em conjunto com dor intensa no local.
O herpes-zóster pode atingir qualquer pessoa que já tenha sido contagiada por catapora. Estima-se que atinja por volta de um terço dessas pessoas em algum momento de suas vidas. Porém, é mais comum e mais perigosa em pessoas imunocomprometidas e com mais de 50 anos.
A recuperação pode se dar naturalmente, com a infecção se mantendo por até 10 dias. Porém, a realização de tratamento para herpes-zóster antiviral é recomendada para evitar a ocorrência de sequelas, como a nevralgia pós-herpética, cegueira e perda de audição.
Para a prevenção, a melhor forma é através da vacina da catapora, mas existem também vacinas específicas para o herpes-zóster atualmente.