A dor de cabeça é um dos sintomas mais comuns em todo o mundo, afetando milhões de pessoas todos os dias [1]. Embora a maioria das dores de cabeça seja benigna e possa ser tratada com analgésicos simples, algumas dores de cabeça podem ser sinais de condições médicas mais graves. É importante entender quando a dor de cabeça é preocupante e quando procurar ajuda médica.
Neste artigo, discutiremos os sinais de alerta que indicam que a dor de cabeça pode ser preocupante e quais são os possíveis diagnósticos para esses sintomas. Além disso, também discutiremos algumas medidas que podem ser tomadas para prevenir dores de cabeça e quando buscar ajuda médica.
1. Categorias Principais de Preocupação
Antes de entrarmos nos sinais de alerta, é essencial estar ciente das três categorias que normalmente são motivo de preocupação quando um paciente busca ajuda médica devido a uma cefaleia:
a. Acidentes Vasculares – Estes podem ser decorrentes de oclusão vascular, seja arterial ou venosa, ou de hemorragias. Hemorragias intracranianas, como hematomas intraparenquimatosos, subdurais ou epidurais, são especialmente perigosas.
b. Tumores – Estes podem ser tumores primários ou metástases. Cânceres comuns, como câncer de pulmão, câncer de mama e melanoma, frequentemente metastatizam para o sistema nervoso central.
c. Infecções e Inflamações do Sistema Nervoso Central – Embora existam outras causas graves de cefaleias, como exposição a toxinas, estas três categorias abrangem a maioria das condições mais preocupantes.
Identificando os Sinais de Alerta
Ao diagnosticar uma condição em tempo hábil, é fundamental procurar os chamados “sinais de alerta” – indícios no histórico e exame físico do paciente que sugerem uma causa potencialmente grave. Atenção especial deve ser dada aos seguintes pontos:
- Características da Dor: Avaliar se a dor começou abruptamente ou de forma gradual é crucial. Uma dor súbita, muitas vezes referida como “dor de cabeça trovoada”, pode ser um sinal de hemorragia aracnóidea.
- Severidade: Uma dor extrema, classificada pelo paciente como “a pior dor de sua vida”, exige uma investigação aprofundada.
- Histórico de Dores: Mesmo pacientes com histórico de migrâneas devem ser levados a sério se relatarem uma dor de cabeça que se distingue das anteriores.
- Localização e Associações: Embora a localização por si só não seja um sinal de alerta, dores de cabeça associadas a dores ou rigidez no pescoço são. Tais sintomas podem indicar meningite ou outra condição grave.
2. Red Flags Importantes
- Início Súbito: Cefaleias que começam abruptamente, muitas vezes referidas como “cefaleias tipo trovão” (“thunderclap headaches”), podem ser indicativas de uma hemorragia subaracnóidea.
- Severidade: Uma cefaleia que é descrita como a mais intensa que o paciente já experimentou é um sinal preocupante.
- Mudança no Padrão: Pacientes com histórico de cefaleias recorrentes, como enxaquecas, que relatam uma cefaleia que se sente diferente de suas cefaleias habituais, devem ser avaliados cuidadosamente.
- Dor ou Rigidez no Pescoço: Dor ou rigidez significativa no pescoço associada a uma cefaleia pode indicar irritação das meninges ou outras condições graves, como meningite.
- Sintomas Neurológicos Focais: Estes podem variar desde alterações sutis na consciência até deficiências motoras ou sensoriais mais óbvias. Problemas de visão, como visão embaçada ou dupla, também são “red flags”.
- Estado Imunossuprimido: Pacientes que são imunossuprimidos, seja por medicamentos ou condições como HIV, estão em maior risco de infecções do sistema nervoso central e devem ser avaliados com extrema cautela.
- Idade: Pacientes acima dos 50 ou 60 anos podem estar em maior risco de condições como acidentes vasculares cerebrais ou tumores.
- Uso de Medicamentos: Especificamente, os anticoagulantes são de nota particular. Pacientes idosos que estão em anticoagulantes e sofrem um trauma na cabeça, mesmo que pareça menor, devem ser avaliados cuidadosamente devido ao risco de hemorragia intracraniana.
- Febre: Embora possa ser um sinal de várias infecções, a febre em combinação com uma cefaleia pode indicar uma infecção do sistema nervoso central.
Dor de cabeça preocupante
Sua dor de cabeça piora de forma gradativa, além de ser uma dor súbita e muito intensa, que atinge o seu pico em poucos segundos ou minutos;
Aliado a isso, essa dor não responde com o uso de analgésicos. A característica dessa dor é ser apresentada de forma constante, especialmente do tipo de dor por pressão e de localização bilateral [2-4]. Essas são as dores de cabeças associadas a um derrame ou a um acidente vascular cerebral (AVC). Esses sintomas podem indicar o rompimento de um aneurisma cerebral, causando um AVC hemorrágico e, portanto, ajuda médica deve ser rapidamente procurada a fim de diminuir risco de sequelas e ampliar o leque de tratamentos possíveis [2].
Essas características também podem indicar uma possível hemorragia subaracnóidea [5], que possui um índice de mortalidade acima de 30% e também está diretamente relacionada com a ruptura de aneurismas cerebrais [6] e, portanto, também deve ser prontamente investigada. Ainda, o AVC hemorrágico ou isquêmico pode estar associado a perda de movimento e força associados.
Dores de cabeça ocorridos após um trauma na região
Após um trauma na cabeça, seja por acidente ou pancadas, a dor de cabeça deve ser cuidadosamente observada pois a pancada pode desencadear quadros que necessitam de atenção, como a possibilidade da presença de uma hemorragia intracraniana e/ou uma lesão cerebral traumática.
Como sintomas, a dor de cabeça associada à traumas pode vir acompanhada de sintomas somáticos, além de sintomas psicológicos e cognitivos [7], e geralmente não é preocupante [7], exceto se culminar nos quadros anteriormente citados.
Dor de cabeça acompanhada de febre, rigidez do pescoço, confusão mental, perda de consciência ou convulsões;
Esses sintomas são preocupantes e podem indicar algum tipo de inflamação do sistema nervoso, como meningite ou encefalite [5]. Esses quadros precisam de atenção médica imediata, pois se não tratados podem levar a complicações graves. Além disso, a presença de vômito também pode ser um sintoma associado à meningite. Em alguns casos, esses sintomas também podem indicar a presença de um abscesso cerebral, outro quadro grave que requer tratamento médico urgente.
Paciente possui mais de 50 anos
Dores de cabeça em pacientes com mais de 50 anos merecem atenção especial, pois podem indicar quadros preocupantes como arterite temporal, uma inflamação dos vasos sanguíneos cranianos, ou cefaleia em salvas, uma das formas mais severas de dor de cabeça primária.
A arterite temporal é um diagnóstico que deve ser considerado em casos de dor de cabeça “diferente” [5, 8], principalmente se acompanhada de febre, claudicação dos músculos mastigatórios ou cegueira, caso não tratada Se houver suspeita, este quadro deve ser tratado imediatamente, sendo primariamente recomendado o uso de corticosteroides [9].
Já a cefaleia em salvas pode ser uma causa secundária de dor de cabeça em pacientes mais velhos, e seu tratamento requer atenção imediata [1].
Dor de cabeça que piora com o tempo, especialmente se ocorrer com outros sintomas, como problemas de visão ou fala, fraqueza muscular ou perda de peso inexplicada;
Pode ser um sintoma inicial ou tardio de um tumor [10]. Dependendo de onde essa massa celular está localizada, essa dor pode ser um sintoma inicial ou tardio. Geralmente, a dor se apresenta como progressivamente intensa e piora ao acordar [10], embora haja algumas divergências nos dados sobre esse aspecto. A forma mais comum de dor de cabeça associada a tumor cerebral é a cefaleia de tensão, que pode ter sintomas como náusea, vômito, distúrbios visuais e até mesmo ataques epilépticos [10]. É importante prestar atenção a esses sintomas e procurar um médico se houver suspeita de um tumor cerebral.
Avaliação Neurológica
Focalizar no cérebro é fundamental. Indícios de disfunção cerebral, como alterações no nível de consciência, déficits neurológicos focais, e problemas de visão, são alarmantes. É vital realizar um exame neurológico básico e observar atentamente os olhos do paciente, procurando por visão embaçada ou dupla e testando a acuidade visual.
Avaliando o Perfil do Paciente
É essencial considerar se o paciente está em risco aumentado de certas condições. Pacientes imunocomprometidos, devido a transplantes, doenças autoimunes ou medicamentos imunossupressores, por exemplo, têm maior risco de várias infecções e tumores.
Além disso, a idade avançada (geralmente acima de 50 ou 60 anos) é frequentemente considerada um sinal de alerta, pois esses indivíduos muitas vezes têm condições crônicas que os tornam mais suscetíveis a acidentes vasculares, tumores e infecções.
Por último, a medicação regular do paciente, especialmente anticoagulantes, pode ser relevante, pois aumenta o risco de hemorragia intracraniana.
Conclusão
Em suma, embora a dor de cabeça possa ser um sintoma preocupante, o risco de que ela esteja relacionada a um tumor cerebral é extremamente baixo, com menos de 0,1% de chance [5]. No entanto, é importante estar atento aos outros sintomas associados à dor de cabeça, que podem indicar quadros mais graves que necessitam de atenção médica imediata. Em caso de dúvida, é sempre recomendado buscar orientação médica para obter um diagnóstico preciso e iniciar o tratamento adequado. Não se automedique.
REFERÊNCIAS
1. Pinheiro, P. Dor de cabeça: tipos e sinais de gravidade. 2022; Available from: https://www.mdsaude.com/neurologia/cefaleias-dor-de-cabeca/.
2. Jamieson, D.G., N.T. Cheng, and M. Skliut, Headache and acute stroke. Curr Pain Headache Rep, 2014. 18(9): p. 444.
3. Harrison, R.A. and T.S. Field, Post stroke pain: identification, assessment, and therapy. Cerebrovasc Dis, 2015. 39(3-4): p. 190-201.
4. Harriott, A.M., F. Karakaya, and C. Ayata, Headache after ischemic stroke: A systematic review and meta-analysis. Neurology, 2020. 94(1): p. e75-e86.
5. Ahmed, F., Headache disorders: differentiating and managing the common subtypes. Br J Pain, 2012. 6(3): p. 124-32.
6. Petridis, A.K., et al., Aneurysmal Subarachnoid Hemorrhage. Dtsch Arztebl Int, 2017. 114(13): p. 226-236.
7. Ashina, H., et al., Post-traumatic headache: epidemiology and pathophysiological insights. Nat Rev Neurol, 2019. 15(10): p. 607-617.
8. Solomon, S. and K.G. Cappa, The headache of temporal arteritis. J Am Geriatr Soc, 1987. 35(2): p. 163-5.
9. Bravo, T.P., Headaches of the elderly. Curr Neurol Neurosci Rep, 2015. 15(6): p. 30.
10. Boiardi, A., et al., Headache in brain tumours: a symptom to reappraise critically. Neurol Sci, 2004. 25 Suppl 3: p. S143-7.