As pessoas costumam relacionar a intensidade desta dor com a gravidade da doença. Mas, no caso da dor crônica, a relação não funciona assim. Dores muito intensas podem estar relacionadas a nenhuma doença específica[2]Von Korff M, Dunn KM. Chronic pain reconsidered. Pain. 2008 Aug 31;138(2):267-76..
A definição de dor elaborada pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) é “a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de tal dano”. Esta é uma definição amplamente usada e aceita de dor aguda de curto prazo e dor crônica.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que aproximadamente 30% da população sofre com a dor crônica. Além disso, a dor crônica é causadora de impactos bastante negativos na população como morbidade, absenteísmo e incapacidade temporária ou permanente no mercado de trabalho, o que gera custos elevados para os sistemas de saúde.
Somado a isso, há impacto negativo na qualidade de vida do doente e seus familiares. Um dos fatores que complica ainda mais a situação é que a maioria dos casos de dor crônica parece não haver um motivo para a dor persistir. Isso dificulta o tratamento apropriado e, por isso, é um importante problema de saúde pública[3]Smith BH, Elliott AM, Chambers WA, Smith WC, Hannaford PC, Penny K. The impact of chronic pain in the community. Family practice. 2001 Jun 1;18(3):292-9.
Confira abaixo mais detalhes sobre o que é a dor crônica e como administrá-la.
A dor é sempre uma experiência pessoal influenciada em graus variados por fatores biológicos, psicológicos e sociais.
A dor crônica é caracterizada pela dor que persiste ou ocorre com frequência por mais de três meses, embora outros critérios sejam utilizados.
Em alguns casos, classifica-se como dor crônica a dor persistente por pelo menos seis meses ou aquela que persiste após o período estimado para a recuperação normal de uma lesão, estimado em semanas. E esta dor pode ser agravada por traumatismos ou posições forçadas, ou incorretas, por exemplo[4]Dansie EJ, Turk DC. Assessment of patients with chronic pain. British journal of anaesthesia. 2013 Jul 1;111(1):19-25..
A dor crônica é geralmente dividida em dois tipos: a dor nociceptiva e a dor neuropática. A dor nociceptiva é aquela ligada a um dano no tecido, enquanto a dor neuropática é a dor ligada aos nervos.
O sistema sensorial da dor é projetado para a sobrevivência. Se um sinal de dor persistir, a programação padrão é que a ameaça à sobrevivência continua sendo uma preocupação urgente. Assim, o objetivo do sistema de dor é tirá-lo do caminho do perigo aumentando a intensidade e o desconforto do sinal de dor.
A dor crônica costuma estar associada com doenças caracterizadas como crônicas, como é o caso do câncer, da artrite reumatoide e da diabetes.
Pode estar associada também com lesões, como hérnia de disco, ligamento rompido e doenças primárias, como dor neuropática, fibromialgia, cefaleia crônica, artrite reumatoide e hérnia de disco. Nesses casos, o agente da dor é classificado como oculto ou remoto. Este tipo de dor costuma ser mais difícil de tratar[5]Moseley GL. A pain neuromatrix approach to patients with chronic pain. Manual therapy. 2003 Aug 1;8(3):130-40..
No entanto, até mesmo lesões leves podem causar dor persistente. Nesses casos, dizemos que o agente da dor é evidente, como uma dor crônica após torcer o pé.
A grande maioria dos casos de dor crônica está ligado a um processo físico, como dores causadas pelo câncer. No entanto, até mesmo fatores psicológicos podem aumentar a intensidade ou a duração da dor persistente. Nesses casos, o nível da dor crônica pode ser desproporcional aos processos físicos que estão relacionados a ela.
Consequentemente, a dor crônica pode provocar ou exacerbar problemas psicológicos como a depressão e a ansiedade[6]Grichnik KP, Ferrante FM. The difference between acute and chronic pain. The Mount Sinai journal of medicine, New York. 1991 May 1;58(3):217-20..
Diagnóstico | Descrição |
---|---|
Fibromialgia | Um distúrbio crônico caracterizado por dor musculoesquelética generalizada, fadiga e sensibilidade em áreas localizadas. |
Osteoartrite | Uma doença articular degenerativa que causa rigidez e dor nas articulações. |
Enxaqueca | Um distúrbio de dor de cabeça recorrente que geralmente é caracterizado por intensa dor latejante ou pulsante em uma área da cabeça. |
Dor Neuropática | Um distúrbio de dor crônica causado por dano ou doença nos nervos. |
Síndrome Dolorosa Miofascial | Uma condição crônica caracterizada por dor e sensibilidade nos músculos e tecidos moles. |
A fisiologia do processamento da dor compreende funcionalmente quatro etapas: transdução, transmissão, modulação e percepção. Esses processos são clinicamente relevantes, pois cada um fornece alvos para o tratamento e prevenção da dor.
O processo de dor no corpo começa com a estimulação de nociceptores, que estão presentes nas terminações nervosas livres do corpo. Esses nociceptores detectam lesões teciduais por estímulos nocivos, enviando impulsos nervosos elétricos para os gânglios da raiz dorsal. A partir daí, o sinal viaja para a medula espinhal, o tálamo e, finalmente, o córtex cerebral, que determina a localização exata da dor. Isso permite que os humanos reconheçam a dor e tomem as medidas necessárias para evitar mais danos.
A dor crônica provoca, com frequência, sinais vegetativos. Exemplos de sinais vegetativos são o cansaço, falta de apetite, problemas de sono, diminuição da libido, constipação intestinal. Esses sintomas vão se desenvolvendo gradualmente.
Com o tempo, a dor constante que limita a movimentação do paciente afetado por levar a problemas psicológicos como depressão e ansiedade.
Decorrente disso, os pacientes se isolam e se afastam da sociedade. E como resultado final, estas pessoas costumam sair do trabalho, gerando, além do impacto na saúde pública, impacto econômico.
Sintoma | Descrição |
---|---|
Dores de cabeça | As dores de cabeça crônicas podem variar de leves a graves e podem durar horas ou dias. |
Dor nas Articulações | A dor crônica nas articulações é uma dor persistente e muitas vezes duradoura que pode afetar qualquer articulação do corpo. |
Dores musculares | A dor muscular crônica é uma dor persistente, geralmente de longa duração, que pode afetar qualquer músculo do corpo. |
Fadiga | A fadiga crônica pode durar semanas, meses ou até anos e pode ser debilitante. |
Problemas de sono | Problemas crônicos de sono podem incluir dificuldade em adormecer, permanecer dormindo ou ter um sono restaurador suficiente. |
Mudanças de humor | A dor crônica pode causar sentimentos de tristeza, ansiedade e depressão. |
Uma das principais dificuldades do tratamento para dor crônica é que os remédios convencionais geralmente não funcionam e podem até mesmo piorar a situação.
O simples repouso contínuo que é frequentemente indicado pelos médicos não é indicado para dores crônicas. Isto porque pode levar a uma deficiência circulatória grave e até mesmo reduzir a mobilidade do paciente. Essa limitação de movimentação gera ainda sentimentos de impotência que, consequentemente, pode levar a depressão.
Por isso, uma das tentativas de tratamento nesses casos é o envolvimento de vários especialistas, o que chamamos de tratamento interdisciplinar.
O tratamento interdisciplinas envolve além de médicos, psicólogos e fisioterapeutas e medicamentos analgésicos, combinados com métodos físicos, e tratamentos psicológicos.
Medicamento | Como funciona | Efeitos colaterais comuns |
---|---|---|
Anti-Inflamatórios Não Esteoidais (ibuprofeno, aspirina, cetoprofeno, celecoxibe, trometamol) | Reduz a inflamação e diminui a dor. | Náusea, vômito, dor de estômago, constipação, azia, dor de cabeça, tontura, erupção cutânea. |
Analgésicos (dipirona, paracetamol) | Atuar no sistema nervoso central para aliviar a dor. | Sonolência, tontura, confusão, constipação, náusea, vômito. |
Opioides (tramal, codeina, metadona, morfina) | Ligue-se a receptores opioides no cérebro e na medula espinhal para reduzir as mensagens de dor. | Náusea, vômito, constipação, tontura, sedação, confusão e depressão respiratória. |
Antidepressivos (amitriptilina, nortriptilina, venlafaxina, duloxetina) | Atua no sistema nervoso central para reduzir a dor e melhorar o humor. | Náusea, boca seca, constipação, sonolência, tontura, dor de cabeça, visão turva, disfunção sexual. |
Anticonvulsivantes (gabapentina, pregabalina, carbamazepina) | Estabilize a atividade elétrica no cérebro para reduzir a dor. | Sonolência, tontura, confusão, náusea, vômito, ganho de peso, visão turva, depressão, tremor. |
Medicamentos Tópicos (capsaicina) | Aplicar medicação através da pele para reduzir a dor. | Irritação da pele, vermelhidão, coceira, erupção cutânea, dor de cabeça, náusea, tontura. |
Anestésicos tópicos (patch de lidocaína) | Reduza os sinais nervosos para reduzir a dor. | Irritação da pele, vermelhidão, coceira, erupção cutânea. |
Canabidiol | Liga-se a receptores no cérebro e na medula espinhal para reduzir a dor. | Sonolência, boca seca, náusea, fadiga, tontura. |
Os médicos geralmente indicam anti-inflamatórios, antidepressivos, analgésicos ou anticonvulsivantes[7]Verdu B, Decosterd I, Buclin T, Stiefel F, Berney A. Antidepressants for the treatment of chronic pain. Drugs. 2008 Dec;68(18):2611-32.. Em alguns casos, pode até ser sugerido procedimentos de intervenção, como radiofrequência ou bloqueios anestésicos, além de atividades físicas, acupuntura, psicoterapia e outros.
Outra sugestão dos médicos para tratar dores crônicas é uma mudança radical no estilo de vida, como dieta balanceada, mais atividades físicas, atividades de lazer e bem-estar, que promovem o equilíbrio do corpo[8]Mior S. Exercise in the treatment of chronic pain. The Clinical journal of pain. 2001 Dec 1;17(4):S77-85..
Tratamentos não farmacológicos para dor crônica | Explicação |
---|---|
Fisioterapia | Exercícios personalizados para ajudar a melhorar a mobilidade e reduzir a dor |
Exercício | Exercício regular para melhorar a força e reduzir a dor |
Terapia de calor ou frio | Uso de calor ou frio para reduzir a inflamação e a dor |
Yoga | Alongamento consciente para reduzir a tensão e melhorar a flexibilidade |
Massagem | Manipulação manual dos músculos para reduzir a tensão e a dor |
Acupuntura | Inserção de agulhas para estimular o fluxo de energia e reduzir a dor |
Técnicas de relaxamento | Meditação e respiração profunda para reduzir o estresse e a dor |
Terapia Cognitiva Comportamental | Terapia para mudar padrões de pensamento negativo e melhorar o enfrentamento |
Biofeedback | Uso de tecnologia para monitorar e controlar respostas fisiológicas |
Mesmo nem sempre sendo possível se curar da dor crônica definitivamente, é possível manejá-la melhor, de uma maneira mais saudável. Isso promoverá melhor qualidade de vida e o possível retorno do paciente na sociedade, interagindo com pessoas e voltando ao mercado de trabalho.
Sempre há maior probabilidade de a dor crônica ser decorrente de uma causa física. Por isso, o primeiro passo é identificá-la com o auxílios de testes físicos e exames.
Além disso, é importante estimar o efeito da dor na vida do paciente. Pode ser até mesmo necessário a avaliação por um psiquiatra forma no caso de suspeita de algum problema psicológico preexistente. Se for este caso, eles precisam ser tratados para que a administração da dor tenha maior sucesso.
Entre as principais consequências da dor crônica podemos citar:
A dor de cada pessoa é diferente, e há muitas causas de agravamento da dor. Estresse, depressão, raiva, ansiedade ou medo e isolamento podem criar mais sinais de dor no corpo. Colocar-se no comando ajuda a manejar melhor a dor crônica.
↑1 | Apkarian AV, Baliki MN, Geha PY. Towards a theory of chronic pain. Progress in neurobiology. 2009 Feb 1;87(2):81-97. |
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↑2 | Von Korff M, Dunn KM. Chronic pain reconsidered. Pain. 2008 Aug 31;138(2):267-76. |
↑3 | Smith BH, Elliott AM, Chambers WA, Smith WC, Hannaford PC, Penny K. The impact of chronic pain in the community. Family practice. 2001 Jun 1;18(3):292-9 |
↑4 | Dansie EJ, Turk DC. Assessment of patients with chronic pain. British journal of anaesthesia. 2013 Jul 1;111(1):19-25. |
↑5 | Moseley GL. A pain neuromatrix approach to patients with chronic pain. Manual therapy. 2003 Aug 1;8(3):130-40. |
↑6 | Grichnik KP, Ferrante FM. The difference between acute and chronic pain. The Mount Sinai journal of medicine, New York. 1991 May 1;58(3):217-20. |
↑7 | Verdu B, Decosterd I, Buclin T, Stiefel F, Berney A. Antidepressants for the treatment of chronic pain. Drugs. 2008 Dec;68(18):2611-32. |
↑8 | Mior S. Exercise in the treatment of chronic pain. The Clinical journal of pain. 2001 Dec 1;17(4):S77-85. |
Médico formado pela Santa Casa de São Paulo, com Residência Médica em Fisiatria pela Universidade de São Paulo.
Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo.
Área de Atuação em Dor pela Universidade de São Paulo.
Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).
Ex-Diretor do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo (CMAeSP).
Membro da Câmara Técnica de Acupuntura do CREMESP.
Presidente do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED).
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