A DOENÇA de gato, apesar do nome sugestivo, não é causada por esses animais de estimação tão fofos e carinhosos. Um dos maiores mitos é que os gatos transmitem a “doença de gato”.
Essa doença, conhecida também como toxoplasmose ocular, é na verdade um problema causado pelo parasita protozoário Toxoplasma gondii, que pode se alojar em todos os vertebrados de sangue quente, incluindo os humanos.
Mas você deve estar se perguntando: por que esse problema é chamado de “doença de gato”? Os gatos costumam ser os hospedeiros definitivos do protozoário Toxoplasma gondii.
No entanto, esse parasita se reproduz no organismo do gato, sendo expelido pelas suas fezes, o que não acontece com outros animais que não sejam felídeos.
Como pega toxoplasmose ocular?
As pessoas podem adquirir toxoplasmose ocular por várias vias:
- Por ingestão oral: consumindo alimentos e água contendo oocistos, comendo carne crua ou malcozida de porcos e ovelhas com cistos teciduais e ingerindo ovos ou leite com taquizoítos;
- Por transplante de órgãos;
- Por transfusão de sangue;
- Por transmissão vertical, quando é transmitida da mãe para o bebê durante a gestação, parto ou amamentação, em alguns casos.
O protozoário T. gondii é um microrganismo encontrado em todo o mundo, mas as chances de infecção são maiores em ambientes tropicais devido ao efeito da umidade e temperatura mais quente na maturação dos oocistos no solo.
A infecção pelo protozoário está fortemente relacionada a alguns fatores, incluindo: condições climáticas, distribuição dos oocistos, reservatório animal, consumo de carne e outros hábitos pessoais.
Em vista da industrialização na produção de carne, ração animal esterilizada e proteção contra roedores e gatos, o risco de infecção diminuiu bastante na maioria dos países que estabeleceram padrões de higiene mais rígidos.
A infecção durante a gravidez pode levar a complicações graves, como: morte fetal, malformações congênitas ou infecções leves de tecidos neuronais.
Quais são os sintomas da “doença de gato”?
Os sintomas e as características clínicas da “doença de gato” incluem:
- Visão turva: a visão turva ocorre quando o olho não consegue focar a luz com precisão na retina, resultando em uma imagem distorcida e pouco nítida.
- Linhas retas que parecem onduladas: As linhas retas podem parecer onduladas quando o olho não está focalizando a luz corretamente na retina. Este é um sintoma de toxoplasmose ocular.
- Visão reduzida: A visão reduzida é uma diminuição na acuidade visual, o que significa que os objetos parecem menos nítidos do que deveriam. Este é um sintoma comum da toxoplasmose ocular.
- Sensibilidade à luz: A sensibilidade à luz é um aumento da sensibilidade à luz, que pode causar desconforto e dor ao olhar para luzes brilhantes. Este é um sintoma de toxoplasmose ocular.
- Moscas-volantes: Moscas-volantes são pequenas manchas no campo de visão. Eles são causados por pequenos pedaços de células ou proteínas no humor vítreo do olho. Este é um sintoma comum da toxoplasmose ocular.
- Dor ocular: A dor ocular é um desconforto ou dor no olho, que pode ser causada por inflamação ou outras doenças oculares. Este é um sintoma de toxoplasmose ocular.
- Inchaço da retina: O inchaço da retina é um inchaço anormal da camada de tecido sensível à luz na parte posterior do olho. Este é um sintoma de toxoplasmose ocular.
- Perda de visão súbita e indolor: A perda de visão repentina e indolor é uma perda repentina de visão que não é acompanhada de dor. Este é um sintoma de toxoplasmose ocular.
Como é realizado o diagnóstico?
O diagnóstico é feito através de uma avaliação oftalmológica básica, além de exames complementares e de imagem, incluindo: exame do fundo de olho, tomografia de coerência óptica, ultrassonografia ocular, oftalmoscopia confocal a laser de varredura, e angiografia fluorescente.
Esses exames são necessários para registrar achados e avaliar lesões e complicações, como oclusão vascular, edema macular, hemorragia vítrea e outras anormalidades oculares.
Imagens apropriadas são de extrema importância para o acompanhamento e visualização detalhada das lesões toxoplásmicas, atividade inflamatória e complicações.
O diagnóstico da “doença de gato” também pode envolver exames laboratoriais, incluindo métodos de detecção direta e indireta. A detecção de anticorpos específicos pode ser efetivamente usada como ferramenta de diagnóstico.
Procedimentos sorológicos também tem sido bastante utilizados, incluindo o teste de anticorpo fluorescente indireto, teste de aglutinação direta e indireta, teste de corante de Sabin-Feldman, teste de avidez de IgG, testes imunocromatográficos e análise de Western Blotting.
Nem todos esses exames sorológicos são realizados rotineiramente pela maioria dos laboratórios clínicos hospitalares, em função do custo excessivo, falta de pessoal experiente, especificidade e deficiências de interpretação.
Alguns médicos não costumam tratar pequenas lesões periféricas da retina, enquanto outros tratam todos os pacientes para diminuir as taxas de recorrência e complicações. Então, por isso, o tratamento dessa doença ainda permanece controverso, dependendo da posição médica.
Como a “doença de gato” é tratada?
Geralmente, lesões que estão longe do nervo óptico ou da mácula, com menor chance de afetar a visão, não são tratadas. O tratamento é indicado quando uma lesão está a dois diâmetros do centro da fóvea ou a um diâmetro das margens do disco óptico.
Espera-se que a toxoplasmose ocular se resolva dentro de 1 a 2 meses. O tratamento é ajustado individualmente de acordo com cada paciente.
A decisão de iniciar o tratamento é baseada em vários parâmetros, incluindo: o estado imunológico do paciente; localização e tamanho da lesão ativa; acuidade visual; prováveis efeitos adversos dos medicamentos disponíveis; além de outros aspectos como gravidez e alergias que o paciente possa ter.
O tratamento é baseado em antimicrobianos e corticosteróides, tópicos e orais. A administração desses medicamentos é mantida por 4 a 6 semanas.
O tratamento antimicrobiano ajuda a controlar a multiplicação dos parasitas.
O progresso da “doença de gato” dependerá da frequência das recorrências e início imediato do tratamento adequado durante a doença ativa, ajudando a minimizar a destruição da retina.
Raramente se torna necessário fazer uso de medicamentos intraoculares, laser ou intervenção cirúrgica. O tratamento apenas com esteroides intraoculares geralmente é contraindicado por causar retinite extensa. A doença pode causar descolamento de retina, então, nesses casos, o médico recomendará a cirurgia.
Quando os pacientes apresentam recorrências frequentes, torna-se necessário tomar medicamentos por tempo prolongado para evitar ou reduzir as novas crises.
Estudos – tratamento de toxoplasmose ocular
Segundo estudo publicado por autores brasileiros da Universidade Federal de São Paulo:
O tratamento tradicional de curto prazo de lesões ativas de retinocoroidite toxoplásmica não previne recorrências subsequentes, com exceção de um mau resultado visual para pacientes que receberam corticosteróides sem drogas antiparasitárias.
Injeção intravítrea de clindamicina e possivelmente esteróides podem ser indicados para pacientes que têm contraindicação de terapia sistêmica específica para toxoplasmose.
O tratamento com espiramicina deve ser iniciado imediatamente após o diagnóstico de infecção materna adquirida recentemente. No entanto, pouco se sabe sobre a eficácia dos tratamentos para doenças oculares, bem como os tratamentos pré-natais de longo prazo sobre a taxa de transmissão fetal e a gravidade da doença congênita.
Ocular toxoplasmosis: an update and review of the literature
Prevenção
Por muitos anos, a maioria dos programas de prevenção da toxoplasmose ocular concentrou-se nas mulheres grávidas.
Porém, nosso conhecimento atual indica que as inflamações intraoculares são adquiridas principalmente no pós-natal.
Visto que as infecções intraoculares podem ser subclínicas, a doença pode se manifestar vários anos depois, demostrando a importância de estabelecer meios eficientes de prevenção de doenças oculares. As medidas de prevenção incluem:
- Evitar o consumo de carne crua ou malcozida;
- Consumir água bem filtrada;
- Lavar frutas e legumes antes de comer;
- Manipular de forma protegida e higiênica as carnes ou o solo, usando luvas e higienizando as mãos depois;
- Evitar o contato com fezes de gatos;
- Lavar as mãos após o contato com caixas de areia para gatos.
Referências
KALOGEROPOULOS, D. et al. Ocular toxoplasmosis: a review of the current diagnostic and therapeutic approaches. International Ophthalmology, v. 42, p. 295-321. 2022.
STOKKERMANS, T. J.; HAVENS, S. J. Toxoplasma Retinochoroiditis. National Library of Medicine, StatPearls, 2022.