As emoções fazem parte do comportamento humano. Elas são capazes de perceber, responder e direcionar processos de comunicação consigo e com o outro. Isso quer dizer que, as emoções possuem papel diretamente nas interações sociais e expressão emocional.
Um funcionamento mal adaptativo das emoções não necessariamente está ligado a carga de emoções negativas ou intensidade das emoções.
Uma dada fase pode ser propicia para episódios de desregulação emocional, isso porque tal processo é característico de influências internas e externas sob a experiência e externalização de emoções na obtenção de objetivos.
A desregulação emocional é entendida como consequência de vulnerabilidade emocional devido dificuldade para manejar emoções.
De modo geral, tem sido conceituada como a falta de estratégias adaptativas para respostas emocionais em direção a metas ou métodos, caracterizando relacionamentos interpessoais não saudáveis, incapacidade de concentração, sentimento de opressão e comportamentos destrutivos.
Pesquisas encontram percentual na população geral de 13,9% no que se refere aos adultos. A definição de desregulação emocional se dá por intermédio da carência de repertório para respostas emocionais funcionais dificultando as relações do indivíduo de diferentes maneiras, colocando-o possivelmente em
comportamentos de risco e denotando psicopatologias como estresse, ansiedade e depressão.
Não obstante, com a regulação emocional é possível que estratégias de reavaliação cognitiva e supressão emocional ajudem no equilíbrio das emoções.
Porém, alguns autores cogitam que a desregulação emocional não signifique, a priori, a ausência de regulação emocional apenas uma diferença no que diz respeito a má operacionalização das emoções.
A regulação emocional pode ser implícita, acontecendo de modo automático como processamento
emocional ou explícita, sendo intervenções conscientes capazes de alterar respostas de cunho emocional.
Tal agrupamento de procedimentos possibilitam a manutenção, diminuição e intensificação de um ou mais elementos individuais para dada resultado emocional que decorre em três níveis.
Na dimensão fisiológica a atividade de regulação emocional redireciona, controla e modifica a ativação emocional propiciando manejos adaptativos em situações ativadoras emocionalmente para o indivíduo.
Na dimensão cognitiva o indivíduo faz uma revisão da situação modificando o significado das emoções com o propósito de regulação e transformação das ações emocionais
E a dimensão comportamental tem reações de ora promover o controle de maneira a expressar ou suspender e ora gerenciar as situações que escolha se expor.
Na regulação emocional há três componentes centrais: o estágio da identificação, onde ocorre a tomada de decisão pela qual haverá a regulação de uma das emoções; o estágio da seleção que é responsável por selecionar e escolher as estratégias; e o estágio de implementação que é decido um recurso e implementado uma estratégia.
O processo de regulação emocional permeia habilidades importantes que, quando não adaptadas frequentemente o surgimento de dificuldades acerca do equilíbrio é evidente, entre elas:
- Capacidade para controlar o comportamento de ordem impulsiva;
- Capacidade para orientar o comportamento a objetivos mesmo diante de emoções desagradáveis;
- Capacidade para flexibilizar utilizando diferentes estratégias de regulação emocional ponderando objetivos, custos e benefícios.
As emoções ocupam papel fundamental no processo de desregulação emocional. Elas influem sobre a
qualidade das respostas comportamentais, pois seja por atitudes e/ou posturas, repercutem por meio de estímulos de predisposição biológica, como: a alegria, o amor, o nojo, a tristeza, o medo, a vergonha, a raiva, por exemplo.
A desregulação emocional traz alguns questionamentos relevantes acerca do comportamento adaptativo que estão envoltas sobre a não aceitação da resposta emocional, a incompreensão e inconsciência das emoções, a incapacidade para ter os objetivos em pauta, problemas com o controle dos impulsos, limitação da aquisição a estratégias de regulação das emoções e ausência de clareza frente as emoções.
Sendo um conceito multidimensional, a desregulação emocional tem sido alvo das intervenções cognitivas comportamentais de terceira onda, devido o seguinte fato de que, essas psicoterapias atuais atuem em tratamento transdiagnóstico e acreditem no princípio na falta habilidades para lidar com o processo excitatório das emoções.
Do ponto de vista cognitivo, discutir o melhor tratamento de acordo com a gravidade emocional significa
avaliar os prós e contras de cada abordagem.
Evidentemente que, o paciente pode escolher aquele que se sentir mais confortável e empático.
Tratando-se do modelo subjacente que envolve o processo de desregulação emocional, parte-se do pressuposto que, as angústias ocupariam o lugar de crenças fundamentais negativas baseadas na rejeição e no abandono provavelmente decorrentes de apego que forjam vulnerabilidades para desregular emocionalmente na adultez.
A Terapia Comportamental Dialética é uma intervenção psicológica que tem como base de estudo a teoria biossocial e a psicopatologia dialética. Enquanto terapia, acredita que no processo de desregulação emocional tem raízes na associação entre vulnerabilidades biológicas, ambientais e sociais advindo de problemas nucleares.
Assim, a proposta da Terapia Comportamental Dialética é instigar mudanças significativas no repertório direcionado ao comportamento de modo que tragam bem-estar na vida da pessoa.
Esse tipo de intervenção se mostra importante pelo fato de trabalhar com o desenvolvimento de habilidades comportamentais, tais: Observação e Atenção (Mindfulness); Efetividade Interpessoal; Regulação Emocional; e Tolerância ao Mal-estar.
A Terapia de Esquemas também se demonstra auxiliar como modelo de intervenção psicológica. Tem como foco a função das emoções, principalmente aquelas vivenciadas na infância e que se reativam em experiências do cotidiano.
Há quatro pontos a serem considerados na Terapia de Esquemas: Seleção da Situação; Modificação da Situação; Desenvolvimento da Atenção; Avaliação; e Modulação de Resposta.
A aliança terapêutica é imprescindível no processo imbuída de técnicas relacionais, experienciais, cognitivas e comportamentais para que a pessoa possa suprir necessidades emocionais primárias.
O primeiro passo na terapia é lidar com os modos de enfrentamento disfuncionais substituindo-os por alternativas mais adaptáveis.
Principais características do setting terapêutico são:
- As sessões devem transpassar um lugar seguro em que o paciente sinta confiança para explorar suas emoções e
necessidades relacionadas promovendo respostas novas; - A relação terapêutica pode trazer gatilhos de situações da infância para o presente de maneira não punitiva ou
abusiva; - O terapeuta ajudará a reconhecer necessidades da primeira infância invalidada para que isso ocorre nas relações do
presente, havendo a criação de um elo entre passado e presente e o desenvolvimento de esquemas; - O terapeuta fornece um espaço de cuidado onde a criança interna funcional do paciente possa ser atendida para
tornarem-se adultos saudáveis, usando técnicas de modelagem, ensinando o paciente a regular as emoções; - Quando o paciente é hábil para manejar emoções, o trabalho terapêutico de diálogos, escrita e imagens é introduzido;
O sentimento de que o paciente está protegido pelo terapeuta é importante, isso faz com que o ensine a se proteger
também. Se faz necessário evitar que a versão internalizada dos pais machuque a criança interior punido; - O processo de reestruturação cognitiva começa quando se tem uma base no processo terapêutico. Se o paciente
confia é possível estabelecer um objetivo comum na terapia e então há crítica sobre o que está sendo falado, pode-se
construir uma estrutura cognitiva sólida; - É relevante colocar em prática o que tem se aprendido dentro das sessões no dia a dia.
A Terapia Focada na Emoção é um tipo de método com base na inteligência emocional e teoria do apego. O terapeuta atua com a função de treinar o paciente a ser mais efetivo e funcional frente a reações emocionais.
A relação terapêutica estabelecida entre paciente e terapeuta modula aspectos de desempenho na vez de regular afetos diante de processos de apego, os quais podem ser vistos também como práticas da terapia cognitivo comportamental.
O ambiente que se propõe durante a terapia focada na emoção é um alicerce fundamental para apaziguar emoções difíceis ou desafiadoras que necessitam de tolerância de sofrimento.
Por fim, a meditação tipo Mindfulenss tem como princípio o cultivo da atenção plena ao momento presente, sem pensamentos de não julgamento e cultura de aceitação. Aliada a desfechos de saúde mental reduz sintomas psicológicos e traz bem-estar.
Também atua em processamento afetivo e cognitivo cerebral com mudanças de estados emocionais. Pesquisas indicam que Mindfulness tem sido uma técnica de apoio promissor na melhora da autoestima, maior afeto positivo, menor ruminação e diminuição da desregulação das emoções.
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