A condromalácia patelar, também conhecida como “joelho de corredor” ou síndrome femoropatelar, é um desgaste do revestimento de cartilagem hialina das superfícies articulares do osso da patela, localizado bem na frente do joelho. Esse desgaste resulta em um amolecimento, seguido de rasgo, fissura e erosão da cartilagem hialina.
Várias causas levam ao desenvolvimento da condromalácia patelar. Por exemplo, injeções iatrogênicas de medicamentos condrotóxicos em uma articulação podem levar ao surgimento de condromalácia.
Injeções intra-articulares de bupivacaína e doses excessivas de injeções intra-articulares de corticosteroides levam ao amolecimento e disfunção da cartilagem articular. Porém, na maioria das vezes, a condromalácia patelar está associada principalmente a microtraumas da cartilagem hialina da articulação patelofemoral.
Imobilização e procedimentos cirúrgicos que levam à atrofia do quadríceps, sapatos de salto alto que aumentam o estresse na articulação patelofemoral, variações anatômicas do pé e do tornozelo, distúrbios biomecânicos que afetam o funcionamento inadequado dos membros inferiores, desalinhamento do joelho, obesidade e atividades físicas de alto impacto são fatores que contribuem para o aparecimento da condromalácia patelar.
Geralmente, as mulheres são mais afetadas com condromalácia patelar do que os homens. A condromalácia patelar também é mais frequente em adultos jovens que praticam esportes de corrida ou trabalhadores que utilizam excessivamente a articulação patelofemoral, em decorrência de subir escadas repetidas vezes.
Quais são os sintomas da condromalácia patelar?
A principal queixa de quem tem condromalácia patelar é uma dor no joelho, ocorrendo uma sensação de trituração quando é flexionado, a qual piora com atividades que aumentam o estresse na articulação patelofemoral – por exemplo, correr, agachar, subir e descer escadas, além de levantar depois de ficar sentado por muito tempo.
Sintomas de Condromalácia |
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Dor atrás da patela |
Dor após atividades como correr, pular ou subir escadas |
Sensação de ranger, clicar ou estalar no joelho |
Dor quando a articulação do joelho é flexionada |
Inchaço ao redor do joelho |
Diminuição da amplitude de movimento |
Como a condromalácia patelar é diagnosticada?
O médico realizará um exame físico do joelho para determinar o que está causando a dor. A condromalácia patelar exige uma história completa e avaliação física cuidadosa para diagnosticar corretamente essa condição e evitar erros de diagnóstico.
Os principais diagnósticos diferenciais para a dor na frente do joelho incluem: tendinite patelar, osteocondrite dissecante da articulação patelofemoral, patela alta, patela baixa, instabilidade patelar e patela bipartida.
O médico deve avaliar traumas prévios, comorbidades, articulações instáveis, dor ou disfunção no pé e tornozelo e atividades rotineiras do paciente. Durante o exame físico, deve ser avaliado a aparência do quadríceps, a orientação do pé e tornozelo, além de se realizar uma avaliação específica da articulação femoropatelar.
Existe um teste físico que avalia especificamente o joelho para a condição de condromalácia, que é o teste de Clarke. O teste de Clarke analisa a dor patelar e o rangido através de uma leve pressão sobre a patela na tróclea femora, fazendo o paciente contrair o músculo quadríceps. Se o paciente apresentar dor e incapacidade para manter a contração do músculo quadríceps, o resultado do teste é positivo, sugerindo condromalácia patelar.
Em alguns casos, o médico pode ainda solicitar alguns exames complementares:
- Exame de raios-X: que permite avaliar a anatomia e o posicionamento da patela no joelho, descartando alguns tipos de inflamação e artrite;
- Ressonância magnética: que permite mostrar com mais detalhes a articulação do joelho, realizando uma avaliação adicional do conteúdo de água e desgaste da cartilagem articular.
A Classificação Outerbridge ajuda o médico a determinar a gravidade do processo degenerativo da condromalácia. São 4 níveis diferentes de degeneração:
- Nível 1: corresponde a um simples amolecimento da cartilagem;
- Nível 2: consiste em uma forma mais avançada de degeneração, com desfiamento condral;
- Nível 3: quando ocorre a fissura da cartilagem articular ao nível do osso subcondral;
- Nível 4: corresponde à forma mais grave, onde ocorre a exposição do osso da região subcondral.
Qual a diferença entre síndrome femoropatelar e tendinite patelar?
Embora os sintomas possam ser em alguns casos similares, são duas lesões com mecanismos diferentes.
- O joelho do saltador (tendinite patelar) ocorre quando o tendão que liga a tíbia à rótula fica inflamado.
- O joelho do corredor (síndrome da dor femoropatelar) ocorre quando a patela se desvia do sulco patelar.
É importante lembrar que a orientação de um profissional de saúde é essencial durante todo o processo de treinamento. Um médico ortopedista e um fisioterapeuta especializado podem oferecer um diagnóstico preciso, acompanhar a reabilitação e fornecer orientações específicas para o treinamento com condromalácia patelar. Além disso, um educador físico qualificado pode garantir a execução correta dos exercícios e ajustar o programa de acordo com as necessidades individuais.
A condromalácia patelar tem cura?
O tratamento para condromalácia patelar é um processo difícil, pois requer a recuperação total da cartilagem. Lembrando que o tecido dessa região já possui uma capacidade limitada de renovação e cicatrização.
A medicina regenerativa já tem feito avanços que melhoram a qualidade de vida dos pacientes, especialmente aqueles com condromalácia patelar. Se o tratamento for realizado da forma correta, a condromalácia patelar tem cura, sim – sendo possível alcançá-la em apenas algumas semanas.
Para obter a cura, é necessário desinflamar a região, fortalecer e alongar os músculos dos membros inferiores e ajustar o posicionamento da rótula e dos pés.
O tratamento poderá incluir o uso de medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais, órteses estabilizadoras da patela que diminuem a pronação do pé, e fisioterapia para fortalecimento do quadríceps.
Fortalecimento do quadríceps e exercícios
Um componente fundamental no treinamento com condromalácia patelar é o fortalecimento muscular. Para começar, é importante realizar um teste isocinético para avaliar o equilíbrio muscular e a força dos músculos do quadríceps. O desequilíbrio muscular deve ser tratado antes de iniciar o treinamento de fortalecimento.
Um fisioterapeuta especializado pode ajudar a desenvolver um programa personalizado com exercícios excêntricos e concêntricos para fortalecer os músculos ao redor do joelho.
Ao prescrever exercícios para condromalácia patelar, é necessário considerar a biomecânica do joelho. Exercícios em cadeia cinética fechada, como agachamentos, podem aumentar a pressão na cartilagem do joelho. Portanto, é recomendado priorizar exercícios em cadeia cinética aberta, como extensões de pernas e máquina de leg press. Esses exercícios ajudam a fortalecer os músculos sem sobrecarregar o joelho.
Além disso, é importante individualizar o programa de treinamento com base nas características de cada pessoa, como idade, biotipo e grau de inibição muscular. Um profissional de educação física experiente pode ajudar a adaptar os exercícios e ajustar a carga de trabalho de acordo com as necessidades individuais.
Um método eficaz para treinar com condromalácia patelar é aumentar o número de repetições em vez de aumentar a carga. Em vez de realizar exercícios com pesos pesados, é recomendado realizar mais repetições com uma carga mais leve. Isso proporcionará uma estimulação muscular adequada sem sobrecarregar o joelho. Por exemplo, se você normalmente faz 10 repetições de um exercício, tente aumentar para 20 ou 30 repetições com uma carga mais leve.
Progressão gradual é fundamental no treinamento com condromalácia patelar. Comece com exercícios mais simples e de baixo impacto, como elevações de quadril com uso de faixas elásticas para ativar o grupo muscular médio e máximo. Conforme a força e a estabilidade do joelho melhoram, é possível avançar para exercícios mais desafiadores, como agachamentos e lunges.
É recomendado buscar a orientação de um fisioterapeuta para desenvolver um programa de treinamento personalizado que se adeque ao seu nível de lesão.
Possibilidades de intervenções fisioterapêuticas
Para a condromalácia patelar, as intervenções fisioterapêuticas incluem uma variedade de tratamentos para reduzir a dor, melhorar a força e a mobilidade e, finalmente, retornar o paciente ao seu nível de atividade anterior à lesão.
Técnicas de mobilização de tecidos moles, como massagem e liberação miofascial, podem ser utilizadas para reduzir o inchaço e melhorar a amplitude de movimento articular. Exercícios de fortalecimento, como séries de quadríceps e glúteos, podem ajudar a melhorar a força e o controle ao redor da articulação do joelho.
Além disso, técnicas de bandagem e órteses podem ser usadas para reduzir tensões excessivas no tendão patelar.
Por fim, exercícios funcionais, como agachamento unipodal, lunges e step-ups, podem ser utilizados para melhorar a coordenação, força e equilíbrio.
- Treinamento de marcha
- Exercícios de amplitude de movimento
- Fortalecimento do quadríceps
- Fortalecimento do quadril
- Fortalecimento do Tornozelo
- Mobilização de tecidos moles
- Técnicas de amarração
- Reeducação da marcha
- Treinamento de Equilíbrio
- Reeducação Neuromuscular
- Treinamento Funcional
- Técnicas de controle da dor
- Educação Ergonômica
- Educação sobre modificação de atividades
- Crioterapia
- Terapia de calor
Com a intervenção apropriada, os fisioterapeutas podem ajudar os pacientes com condromalácia patelar a retornar ao nível de atividade desejado.
Tratamento cirúrgico
O tratamento cirúrgico só é indicado para os casos mais graves, quando há falha de resposta ao tratamento convencional. Para isso é realizada a artroscopia, um pequeno procedimento cirúrgico cujo objetivo é observar as estruturas no interior da articulação e reparar a lesão.
A recuperação pode ocorrer em algumas semanas, em menos de um mês ou então levar anos, dependendo da intensidade de cada caso.
Referências:
HABUSTA, S. F. et al. Chondromalacia Patella. National Library of Medicine. StatPearls. 2022.