ISQUIOTIBIAIS são músculos esqueléticos que ficam localizados na parte de trás das coxas. Os seus músculos isquiotibiais são formados pelo bíceps femoral, semitendíneo e semimembranoso. Esse grupo de três músculos originam-se na tuberosidade isquiática como um tendão comum.
Eles passam pelas articulações do quadril e do joelho e são inervados pela porção tibial do nervo ciático.
As lesões nos músculos isquiotibiais são comuns em atletas e estão associadas a um problema frustrante devido ao longo tempo de reabilitação, além da propensão à recorrência e imprevisibilidade do retorno ao esporte.
As lesões nos isquiotibiais variam desde um leve dano muscular a uma ruptura completa das fibras musculares. Da mesma forma que as lesões variam, o tempo de reabilitação também é bastante variável.
Problemas nos músculos isquiotibiais são mais frequentes em esportes como o futebol, correspondendo a cerca de 37% das lesões musculares associadas a esse esporte, que é o mais popular do mundo.
Estima-se que as lesões ocorrem mais frequentemente durante as sessões de treinamento do que durante as atividades competitivas.
Após a lesão nos isquiotibiais, atletas demoram, em média, 4 meses para retornar ao esporte sem restrições, enquanto dançarinos podem levar até 1 ano. No futebol profissional, geralmente o atleta fica em torno de 14 dias fora das atividades competitivas.
Além do futebol, as lesões nos isquiotibiais são comuns também em esportes como o atletismo, basquete e esqui aquático.
Esportes com movimentos balísticos do membro inferior, caracterizados pela dança, patinação e esqui, estão relacionados com avulsão proximal dos tendões dos isquiotibiais, pois muitas vezes os joelhos ficam dobrados em posição de agachamento profundo.
Logo, a lesão nos músculos isquiotibiais é a principal causa do afastamento do esporte. A recorrência é a complicação mais comum dessas lesões.
Fatores de risco das lesões nos músculos isquiotibiais
Dentre os fatores de risco, o desequilíbrio muscular dos isquiotibiais tende a causar um risco maior de lesão.
O gesto do atleta durante a sua prática esportiva também é um fator predisponente de lesão. Quando o atleta inclina anteriormente a pelve, no momento da aceleração na corrida, isso acaba aumentando a tensão sobre os isquiotibiais.
Fator de risco |
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Dor na frente da coxa ao dobrar o joelho |
Dor na parte externa do joelho |
Dor ao esticar a perna após dobrar o joelho |
Dor ao agachar |
Dor ao subir escadas |
Dor ao correr ou pular |
Dor ao levantar o joelho |
Inchaço ou sensibilidade na coxa |
Fraqueza nos músculos da coxa |
Períodos curtos de alongamento também estão associados a maior chance de lesão. Atletas que em virtude de suas posições desempenham corridas, também estão em maior risco de sofrer lesões nos isquiotibiais.
No futebol, por exemplo, as lesões no lado dominante têm maior gravidade, pois estão associadas com o movimento do chute.
Em relação às avulsões proximais dos isquiotibiais, as rupturas completas geralmente são mais comuns em pacientes com quadro de tendinopatia local prévia.
Sintomas das lesões nos músculos isquiotibiais
Os sintomas dependem das características da lesão, que variam desde um estiramento das fibras musculares a uma avulsão dos tendões. No entanto, independentemente das distensões ou rupturas, as lesões são muito mais frequentes proximalmente do que distalmente.
O bíceps femoral é o músculo mais frequentemente lesado e o semimembranoso, geralmente é o segundo músculo mais acometido.
Outros sintomas incluem: marcha antálgica, hematoma ou equimose na região posterior da coxa, fraqueza muscular dos isquiotibiais e dificuldade em suportar o peso da perna.
Clinicamente, o sintoma mais comum manifesta-se através de um quadro doloroso súbito na região posterior do quadril. Também relata-se a sensação de um estalido na parte de trás da coxa, inchaço logo após a lesão e a incapacidade de permanecer na atividade física.
Geralmente, o volume do hematoma está associado com a gravidade da lesão, porém sua ausência não pode ser confundida como uma lesão menor. Por isso, sempre consulte seu médico para um diagnóstico preciso.
- Dor na frente da coxa ao dobrar o joelho
- Dor na parte externa do joelho
- Dor ao esticar a perna após dobrar o joelho
- Dor ao agachar
- Dor ao subir escadas
- Dor ao correr ou pular
- Dor ao levantar o joelho
- Inchaço ou sensibilidade na coxa
- Fraqueza nos músculos da coxa
- Dor ao alongar a coxa
Diagnóstico das lesões nos músculos isquiotibiais
No início da consulta, o médico fará um diagnóstico diferencial que incluem apofisite dos isquiotibiais, síndrome do piriforme, tendinopatias, bursites e radiculopatias. Logo, a história clínica do paciente, suas queixas e o exame físico são de extrema importância para o correto diagnóstico.
Durante o exame físico, a força dos músculos isquiotibiais pode ser testada através da flexão do joelho e extensão do quadril contra a resistência.
O teste clínico de “tirar o sapato” também é um método de avaliação, em que o paciente retira o sapato ipsilateral à lesão, na posição de pé, com o auxílio do pé contralateral.
O paciente fará a flexão do joelho e o médico observará se isso desencadeará dor ou demonstrará a fraqueza da musculatura afetada.
Será realizado também um exame clínico neurológico, pois as lesões musculares podem estar associadas com as lesões neurológicas, que podem se manifestar com parestesias ou alterações motoras.
Os exames de imagem também fazem parte do diagnóstico da lesão dos músculos isquiotibiais, com o objetivo de confirmar o diagnóstico e fornecer informações adicionais para a tomada de decisões terapêuticas.
A primeira modalidade de exame de imagem envolve a radiografia que serve para excluir as fraturas avulsões dos isquiotibiais, principalmente em pacientes esqueleticamente imaturos.
A ultrassonografia é indicada entre o 2° e o 7° dia após o trauma, ajudando a detectar a lesão através da visualização do hematoma e da descontinuidade das fibras. É um exame acessível e de baixo custo.
A ressonância magnética é recomendada para identificar e descrever as lesões, principalmente as de localização proximal, ajudando a definir precisamente o local da lesão, bem como sua gravidade, extensão e os tendões envolvidos.
Diagnóstico diferencial de dor nas pernas
Nome | Descrição |
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Tensão do quadríceps | Uma tensão ou ruptura dos músculos do quadríceps, que estão localizados na frente da coxa. |
Distensão do tendão | Uma tensão ou ruptura dos músculos isquiotibiais, localizados na parte posterior da coxa. |
Síndrome da banda iliotibial | Inflamação da banda iliotibial, uma longa faixa de tecido fibroso que vai do quadril até o joelho. |
Tendinite patelar | Inflamação do tendão patelar, um tendão que conecta a rótula à tíbia. |
Cãibras musculares | Espasmos musculares devido a esforço excessivo, desidratação ou desequilíbrio eletrolítico. |
Tratamento, reabilitação e prevenção
Grande parte das lesões dos isquiotibiais podem ser tratadas de forma conservadora, tendo como resultado a recuperação total.
Na fase inicial, o tratamento baseia-se em reduzir o sangramento intramuscular e controlar a inflamação. Para isso, os métodos utilizados envolvem analgesia, eletroterapia como TENS, repouso, compressas de gelo, compressão e elevação do membro afetado.
É importante ressaltar que a imobilização desnecessária precisa ser evitada, pois leva à atrofia muscular. No entanto, através da mobilização precoce por meio de exercícios de alongamentos e fortalecimentos, espera-se obter uma cicatrização estável e funcional.
Medicamentos anti-inflamatórios são úteis para modular a resposta inflamatória, bem como aliviar a dor, contribuindo para o início precoce da reabilitação.
Classe de Medicação | Usos |
---|---|
Anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) | Reduz a inflamação e a dor |
Analgésicos | Podem ajudar na redução da dor e auxiliar a reabilitação |
Relaxantes Musculares | Relaxe os músculos tensos que causam dor |
Analgésicos tópicos | Aplique diretamente na área afetada e reduza a inflamação. |
Corticóides | Usados com cautela, quando o quadro agudo da dor não é controlado e não responde ao tratamento inicial |
Opioides | Reduz os impulsos nervosos e bloqueia os sinais de dor. Usados para casos de dor intensa. |
Os anti-inflamatórios não-esteróides são os mais utilizados e indicados até as primeiras 72 horas da lesão, para não interferir no reparo tissular. Após esse período, os analgésicos são recomendados para o manejo antálgico.
Corticosteroides também podem ser administrados para o controle da inflamação, mas apenas quando o quadro agudo da dor não melhora e quando não há resposta significativa de reabilitação, pois o uso local de corticosteroides pode manifestar efeitos prejudiciais sobre o tecido muscular, devido as ligações de colágeno e redução da cicatrização tecidual.
Em casos mais graves e complexos, quando o tratamento conservador não resolve, é indicado o tratamento cirúrgico, que consiste na reinserção dos tendões rompidos através de âncoras bioabsorvíveis.
Fisioterapia e Reabilitação para Lesão nos Isquiotibiais
A reabilitação baseia-se em exercícios de alongamento e reforço muscular, visto que a cicatrização tecidual envolve a regeneração muscular e a formação de fibrose.
A reabilitação funcional precisa ser individualizada conforme as necessidades de cada paciente, visando restaurar a força e a flexibilidade muscular, bem como fornecer alívio da dor.
Intervenção | Descrição |
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Alongamento | Usar força suave para alongar o músculo e melhorar a flexibilidade |
Exercícios isométricos | Exercícios de fortalecimento que envolvem a contração do músculo sem mover a articulação |
Massagem | Manipulação manual dos tecidos moles para reduzir a tensão, aliviar a dor e melhorar a circulação |
Terapia com gelo/frio | Aplicar gelo na área afetada para reduzir o inchaço e a dor |
Terapia de calor | Aplicação de calor para relaxar os músculos e aumentar a circulação |
Terapia de ultrassom | Ondas sonoras para reduzir a inflamação, melhorar a circulação e reduzir a dor |
Importante destacar que exercícios de fortalecimento muscular servem tanto como fator de reabilitação quanto de prevenção. Por isso, o paciente deve manter o corpo ativo e contar com um plano de exercícios específicos para que evite lesões futuras.
Não esqueça de se aquecer e realizar exercícios de alongamentos antes de qualquer atividade física, pois assim seus músculos isquiotibiais conseguirão realizar movimentos sem restrições e com melhores amplitudes.
Apenas não exagere, pois se a atividade for muito intensa, provocará dor e levará à perda de força muscular.
Referências
ERNLUND, L.; VIEIRA, L. A. Lesões dos isquiotibiais: artigo de atualização. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 52, n. 4, p. 373-382. 2017.