A prednisona é um medicamento com ação anti-inflamatória, além de alto poder imunossupressor, da classe dos glicocorticoides. Sua classe também é chamada de corticoide ou corticoesteroide, e é uma versão sintética do hormônio cortisol.
Endogenamente, o corpo humano produz e secreta glicocorticoides pelo córtex adrenal, exercendo um papel importante em diversos órgãos e sistemas.
Sua concentração circulante é regulada por meio do ajuste do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal, influenciado por alguns fatores, como ritmo circadiano, estresse e feedback negativo exercido pelo próprio hormônio glicocorticoide.
Para que serve prednisona?
A prednisona é indicada para o tratamento de doenças endócrinas, osteomusculares, reumáticas, dermatológicas, alérgicas, oftálmicas, respiratórias, hematológicas, neoplásicas, entre outras.
Outra função muito importante é na manutenção de órgãos transplantados, por sua ação imunossupressora, que faz com que o novo órgão não seja rejeitado.
Mecanismo de ação e farmacocinética
Com potente ação anti-inflamatória e imunossupressora, a prednisona inibe as manifestações precoces ¾ como rubor, dor e edema ¾ e tardias da inflamação.
Os glicocorticoides afetam todos os tipos de reação inflamatória, seja ela causada por patógenos invasores, por estímulos físicos e químicos ou por resposta imune inapropriada, como no caso de hipersensibilidade e doenças auto-imunes.
Considerada um pró-fármaco, sua absorção via oral é rápida e completa no trato gastrintestinal e liga-se às globulinas e a albumina sérica, em sua forma inativa. No fígado, é rapidamente convertida na sua forma ativa, a prednisolona.
O efeito máximo após administração oral ocorre de 1 a 2 horas e sua ação dura de 1,25 a 1,5 dias. Sua excreção é feita por via urinária em até 72 horas após a administração.
Apresentações disponíveis e posologia
A prednisona é encontrada em comprimidos de 5 mg e 20 mg, e tem como referência o Meticorten. Ela inclusive consta na Relação Nacional de Medicamentos (RENAME), estando disponível nos componentes básico e estratégico da farmácia do Sistema Único de Saúde (SUS).
A dosagem de prednisona depende da condição que está sendo tratada e da resposta do paciente ao tratamento. Após obtida resposta satisfatória, a dosagem deve ser diminuída gradualmente até chegar ao mínimo necessário para resposta clínica.
Para adultos, a dose inicial pode variar entre 5 mg e 60 mg, dependendo da doença tratada.
Em crianças, a dosagem deve ser baseada principalmente na gravidade da doença e na resposta do paciente, mais do que em critérios como idade, peso e superfície corporal.
No geral, a dose inicial varia entre 0,14 mg e 2 mg/kg/dia ou entre 4 mg e 60 mg por metro quadrado de superfície corporal por dia.
Efeitos colaterais
O uso de prednisona pode causar reações indesejadas como:
- alterações hidroeletrolíticas (retenção de sódio, perda de potássio, aumento de pH, entre outros)
- nos ossos e músculos (fraqueza, perda de massa muscular, miastenia gravis etc.)
- no estômago e intestino (úlcera péptica, pancreatite, distensão abdominal etc.)
- na pele (retardo na cicatrização, manchas vermelhas etc.)
- no sistema nervoso (convulsões, aumento da pressão intracraniana etc.)
- nas glândulas (supressão de crescimento fetal, irregularidade menstrual etc.)
- nos olhos (aumento da pressão intraocular, glaucoma etc.)
- no metabolismo (perda de proteína)
- psiquiátricas (alterações de humor, euforia, depressão, insônia etc.)
- e outras, como reações alérgicas.
Precauções e advertências
É necessário adotar algumas precauções durante o tratamento, para além dos efeitos colaterais e contraindicações, independentemente da duração do tratamento.
No período em que se estiver fazendo uso de prednisona não é recomendado o uso de álcool, pois seu efeito, somado ao dos glicocorticoides podem resultar no aumento da incidência e gravidade de úlceras gastrintestinais.
Medicamentos como fenobarbital, fenitoína, rifampicina e efedrina podem aumentar o metabolismo dos corticoides, reduzindo seus efeitos terapêuticos.
Já a coadministração com inibidores potentes da CYP3A4, como cetoconazol, pode aumentar o risco de efeitos colaterais sistêmicos.
O uso de prednisona por pacientes diabéticos pode ocasionar reajuste de dose dos hipoglicemiantes.
Portanto, não deixe de informar ao médico se você faz uso de algum medicamento contínuo.
Uso durante a gravidez e amamentação
O uso de prednisona não é recomendado durante a gravidez e no período de amamentação, a não ser que o prescritor conclua que os benefícios superam os riscos. Esse medicamento pode passar para o leite materno.
Ganho de peso
Um medo recorrente dos pacientes que necessitam usar corticoides, como a prednisona, é o ganho de peso. Essa informação é parcialmente verdadeira, já que o ganho de peso ocorre de forma mais frequente naqueles que fazem uso contínuo do medicamento.
Isso porque, dependendo do tempo de uso, dose e via de administração, um dos seus efeitos colaterais é a retenção de sódio e água, o que resulta em edema. Além disso, o paciente pode ganhar peso, com acúmulo de gordura principalmente na região do tronco, na face e na região retrocervical.
Prednisona no tratamento da COVID-19
Evidências mostram benefícios no uso de corticoides, como a prednisona, no tratamento hospitalar de pacientes graves com COVID-19, como aqueles que necessitam de ventilação mecânica ou oxigênio suplementar.
Isso porque quando o paciente está infectado com o coronavírus ocorre uma tempestade de citocinas inflamatórias que sinalizam a presença do patógeno.
Desse modo, o papel do corticosteroide é diminuir a produção dessas citocinas, além de ajudar a controlar a fase inflamatória da doença, evitando danos pulmonares graves e danos em outros órgãos.
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Memento Terapêutico. Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz. – Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 302 p. – (Série B. Textos Básicos de Saúde). http://www2.far.fiocruz.br/farmanguinhos/images/stories/phocadownload/prednisona.pdf
Donatti, T. L., et al. Os glicocorticoides e seus efeitos no crescimento e na mineralização óssea. J. Pediatr. v. 87, n. 1, fev. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jped/a/3fBVx64L6KkbdbPVkjryHjF/?lang=pt
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos.Relação Nacional de Medicamentos Essenciais Rename 2022 [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 181 p. https://www.conass.org.br/wp-content/uploads/2022/01/RENAME-2022.pdf
Meticorten. [Bula]. São Paulo: Merck Sharp & Dohme Farmacêutica Ltda. Fernando C. Lemos.