A LIBERAÇÃO MIOFASCIAL consiste em uma grande variedade de técnicas utilizadas com o propósito de aliviar dores nos tecidos musculares através da mobilização manual da fáscia muscular, na qual aplica-se pressão em determinados pontos do corpo para liberar a tensão.
O profissional especializado em realizar essa técnica utiliza as mãos, cotovelos, dedos, mas também pode utilizar instrumentos específicos como o stick.
A fáscia está localizada entre a pele e a estrutura subjacente de músculo e osso. É uma rede contínua de tecido conjuntivo que cobre e conecta os músculos, órgãos e estruturas esqueléticas em nosso corpo.
A fáscia possui três camadas: fáscia superficial, fáscia profunda e fáscia subserosa. A união de músculo e fáscia forma o sistema miofascial.
Como é a dor miofascial?
Os sintomas mais comuns da dor miofascial incluem: dor persistente que parece surgir de dentro do músculo; nós musculares sensíveis ao toque; e dificuldade para dormir devido ao desconforto muscular.
Efeitos benéficos da liberação miofascial
Os efeitos diretos da liberação miofascial incluem: alívio da dor, melhora do desempenho atlético e maior flexibilidade e facilidade de movimento. Dentre os efeitos indiretos, destacam-se: relaxamento profundo, alívio da tensão emocional e sensação de bem-estar.
O tratamento da liberação miofascial também é capaz de aumentar a energia, aliviar a tensão física, restaurar a função muscular, alinhar a postura, equilibrar o corpo e a mente, bem como promover a autocura.
Estudos apontam que a liberação miofascial induz a tixotropia, um processo em que o calor e a pressão tornam o tecido mais fluido e menos suscetível à tensão.
Através da técnica, ocorre uma melhora na circulação sanguínea e o aumento da produção de óxido nítrico e mediadores inflamatórios.
O tratamento da liberação miofascial pode ajudar em várias patologias, como:
- Dores crônicas, como as causadas pela fibromialgia;
- Dor nas costas, no pescoço e ombros;
- Dores de cabeça;
- Desconforto na mandíbula e bruxismo;
- Dor ciática;
- Síndrome do túnel do carpo;
- Desconforto muscular;
- Formação de pontos-gatilhos;
- Tonturas;
- Desconforto menstrual;
- Lesões esportivas;
- Cicatrizes pós-cirúrgicas e lesões.
Conceitos da técnica de liberação miofascial
O primeiro conceito é o de retesamento-frouxidão, onde o retesamento cria a frouxidão, que permite assimetria. Alguns elementos reflexivos biomecânicos e neurais fazem parte desse conceito.
A estimulação aumentada faz com que um músculo agonista fique tenso, e quanto mais tenso ele se torna, mais frouxo e solto o músculo antagonista também se torna por inibição recíproca.
O segundo conceito é a palpação em síndromes dolorosas miofasciais. A palpação de elementos miofasciais identifica locais dolorosos que podem ser tratados terapeuticamente pelas mãos.
O terceiro conceito refere-se a mudança neurorreflexiva, que ocorre com a aplicação de força manual no sistema musculoesquelético, onde a estimulação aferente de um estiramento muscular resulta em inibição eferente para que o relaxamento ocorra no tecido tenso.
O quarto conceito é a soltura ou liberação. Em outras palavras, o relaxamento tecidual. O objetivo da liberação é recuperar a simetria da função e da forma muscular.
Lista: Benefícios da Liberação Miofascial
- Mobilidade e flexibilidade aprimoradas
- Aumento da amplitude de movimento articular
- Postura melhorada
- Redução da tensão e dor muscular
- Estresse reduzido
- Melhor desempenho atlético
- Melhor circulação
- Equilíbrio melhorado
- Respiração melhorada
- Melhora do bem-estar geral
Como é realizada a técnica de Liberação Miofascial?
A técnica de liberação miofascial é realizada manualmente com a manipulação de tecidos através de deslizamentos, apoios e pressões.
É importante que um fisioterapeuta especializado aplique a técnica, pois qualquer lesão muscular manipulada de forma incorreta poderá acarretar outros problemas.
Mas também existe a autoliberação miofascial, onde o próprio paciente aplica a técnica sem a supervisão de um profissional de saúde.
Nessa situação, o paciente pode usar instrumentos como bolas de tênis ou rolos de espuma (Foam Roller).
O procedimento, quando realizado por um profissional especializado, acontece da seguinte forma:
Fazendo contato: o processo inicia com o fisioterapeuta colocando a mão sobre o paciente. Deve ser aplicada uma pressão direcionada para a superfície de apoio.
O toque sobre a pele aumenta a temperatura corporal e o nível de energia do tecido, criando um maior grau de fluidez ao sistema.
Avaliação da mobilidade e tônus fascial: A mobilidade do grupo de músculos escolhidos é avaliada pelo fisioterapeuta em todos os ângulos (superior, inferior, medialmente e lateralmente, no sentido horário e anti-horário). A qualidade do tecido varia em diferentes partes do mesmo corpo.
O primeiro passo é a preparação. As mãos do fisioterapeuta são colocadas sobre o corpo do paciente por meio de uma leve pressão.
Logo após, deve ser feito o alongamento do componente elástico dos tecidos até a palpação da primeira barreira, sendo que, nesse momento, o foco deve estar na tração, e não na pressão.
A tração precisa ser mantida por 120 segundos antes que o tecido comece a alongar. Geralmente, a pressão e a tração no músculo criam um atrito profundo, acúmulo de calor, uma sensação de formigamento e vibração.
O segundo passo consiste no processo de alongamento. Conforme o músculo começa a alongar, a tensão desaparece lentamente. Ajustes na tração e pressão devem ser feitos à medida que o tecido é liberado.
Quando se atravessa a primeira barreira restritiva, o fisioterapeuta segue o tecido em vez de forçá-lo em uma direção predeterminada. Conforme o tecido muscular se alonga, ele pode ficar preso em um padrão repetitivo. Para liberar em uma nova direção, o fisioterapeuta mantém suavemente a tração estável.
É importante destacar que o fisioterapeuta deve garantir que seus ombros e pescoço estejam relaxados. Para garantir que a tração seja mantida, ele pode deslocar o peso corporal e se reposicionar.
Quando o movimento diminui ou quando encontra o final de uma área para a colocação da mão, o fisioterapeuta pode concluir o procedimento de liberação miofascial.
Médicos fisiatras e especialistas em dor realizam um procedimento (agulhamento seco ou dry needling), com o objetivo de inativar pontos gatilhos e aliviar a tensão miofascial.
Contraindicações da Liberação Miofascial
A liberação miofascial deve ser evitada diante das seguintes condições:
- Febre;
- Infecções localizadas;
- Feridas abertas;
- Câncer ou tumores;
- Aneurisma;
- Cicatrização de fraturas;
- Terapia anticoagulante;
- Pele hipersensível, com alodínia
Precauções
Devem ser tomadas algumas precauções. Por exemplo, no caso de osteoporose, deve ser usada pressão leve no paciente.
Se a pessoa tiver hipotonia, ou seja, redução do tônus muscular e da força, o alongamento tecidual precisa ser feito com controle, visto que o aperto do tecido pode causar estabilidade estrutural.
Caso o tecido seja cicatricial, a liberação deve ser realizada lentamente para maior conforto do paciente. O procedimento, principalmente para quem está com dor aguda, pode ser dolorido (o músculo pode ficar sensível por poucas horas a 1-2 dias).
Considerações Finais
A liberação miofascial é mais profunda do que uma massagem, pois não libera apenas o tecido muscular, mas sim o tecido conjuntivo.
Por ser um tratamento intenso, pode apresentar alguns riscos em determinados casos, por isso sempre converse com seu médico ou fisioterapeuta para ter certeza de que a terapia é indicada para a sua situação.
Referências
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