Apesar de muitos associarem a fisioterapia a problemas ortopédicos apenas, temos uma área muito eficiente dentro da profissão que é a fisioterapia neurofuncional. Seu foco é o sistema nervoso central e periférico, promovendo a reabilitação em pacientes com paralisias e lesões nervosas.
Essa especialidade foi fortificada em 2009 quando a ABRAFIN (Associação Brasileira de Fisioterapia Funcional) foi criada. O intuito da instituição sem fins lucrativos é disseminar e desenvolver estudos que aprimorem a área no Brasil.
Dessa forma, reunimos todas as informações básicas sobre esse ramo da fisioterapia para informar você sobre sua importância e campo de atuação. Continue lendo para saber mais.
Fisioterapia Neurofuncional
Podemos definir a fisioterapia neurofuncional como a área da fisioterapia que se encarrega de estudar, diagnosticar e tratar os distúrbios neuromotores. Portanto, com um surgimento datado do fim da década de 40, ela se baseia nos estudos de vários especialistas como Bobath, Kabat, Rood e Brunnstrom.
Segundo Luvizzuto e Souza, no livro “Reabilitação neurofuncional” o fisiterapeuta tem uma função bem específica dentro do processo de reabilitação:
“Como num ciclo, a seguir temos o raciocínio clínico, de tomada de decisão terapêutica, depois a construção da intervenção propriamente dita, seguida por reavaliações frequentes. A cada reavaliação o ciclo se repete para que sejam feitas adequações ao plano terapêutico inicialmente proposto. Todas estas etapas podem e devem estar apoiadas no constructo da CIF”
CIF
A CIF é um parâmetro muito usado no neurofuncional para classificar as doenças neurológicas. Os autores seguem a explicação:
“A CIF pode ser definida como um modelo para a compreensão da funcionalidade e incapacidade, englobando os modelos médicos e biopsicossocial. Assim, pode-se dizer que a funcionalidade é determinada por aspectos anatomo-fisiológicos associados a fatores pessoais e ambientais”.
A fisioterapia neurofuncional será de extrema importância para pacientes que apresentam distúrbios nervoso como:
- Hemiplegias;
- Paraplegias;
- Disfunções vestibulares;
- Parkinsonismo;
- Miopatias;
- Cerebelopatias;
- Entre outras.
Portanto, pessoas que apresentam perda de equilíbrio e muitas quedas, dificuldade de locomoção durante o seu dia a dia, dificuldade em mover alguma parte do corpo sem motivo de trauma, alterações de sensibilidade pelo corpo, que faz uso de muletas e cadeira de rodas e muitas tonturas, devem procurar um médico.
Em muitos casos, a reabilitação neurofuncional pode ser indicada.
Um fisioterapeuta especializado nessa área é importante para tratar e amenizar as sequelas neurológicas que alguns distúrbios causam. Existem casos que se precisa ensinar o paciente a andar novamente e tudo isso é feito através de estimulação e exercícios muito específicos.
Funções Neurológicas Importantes
O cérebro trabalha com conexões neurais para fazer tudo. A cada segundo, milhares de conexões e desconexões são feitas para que possamos desempenhar as nossas funções cotidianas. Elas são modeladas pelo nosso estado de saúde e doença.
Quando falamos de plasticidade, dizemos que os neurônios possuem a capacidade de adaptação a outras funções. Assim, essa plasticidade é o que se busca na fisioterapia neurofuncional. Através de novas conexões, os neurônios podem reaprender movimentos que a disfunção acabou interrompendo.
Até os 6 anos de idade, a produção de conexões está a todo vapor dentro do cérebro da criança. A partir desse momento, tais conexões começam a ser remodeladas de acordo com as experiências vividas por cada indivíduo.
Por Exemplo
Três pessoas tiveram uma experiência nova: um assalto ao banco. A primeira leu sobre o assunto, a segunda estava próxima no momento do ocorrido e a terceira foi feita de refém. Qual delas passou por um processo de neuroplasticidade? As três. Assim, não importa o tipo de experiência, em todos os casos o cérebro precisa se remodelar, criando novas conexões para se adaptar à nova informação ou momento vivido.
Dessa forma, temos conexões novas todos os dias e que nos permitem armazenar novas sensações e informações.
Regeneração Após Lesões Nervosas
O que se sucede após uma lesão são as regenerações axonais. E, mesmo assim, são muito limitadas, principalmente se ocorrerem no Sistema Nervoso Central.
As Regenerações
Entretanto, podemos citar algumas respostas neurológicas que o SNC tenta reformular para que as transmissões voltem a acontecer. São elas:
- Diásquise: É uma depressão funcional transsináptica que ocorre após uma lesão no SN. Em outras palavras, a lesão acaba destruindo um corpo celular. Isso interrompe totalmente a transmissão do impulso nervoso.
- Brotamento colateral ou regenerativo: Após uma lesão no SNP, ocorre o brotamento axonal. Dessa forma, esse axônio pode germinar por si só (regenerativo) ou o axônio vizinho germina (colateral) para encontrar o neurônio lesionado.
- Recuperação da eficácia sináptica: São lesões que não destroem o neurônio, apenas impossibilitam seu trabalho, como um edema cerebral. Portanto, após a sua retirada, as funções neurológicas voltam ao normal.
- Supersensibilidade de denervação: Quando uma doença afeta os neurotransmissores (como ocorre no Parkinson) afetando um neurônio, o seu adjacente acaba “implorando” por eles. Isso faz com que neurônios vizinhos sejam atraídos e nem sempre eles possuem a mesma função que aquele que foi afetado.
- Ativação de sinapses latentes: Como o próprio nome já diz, sinapses e circuitos dormentes são ativados para ficar no lugar daqueles que não funcionam mais.
- Representação vicária: Refere-se a substituição de uma área por outra, entretanto, a função dessas áreas precisam ser semelhantes.
- Inibição inter-hemisférica: O nosso cérebro tem dois hemisférios (direito e esquerdo). Normalmente, quando um está trabalhando, o outro é inibido e vice-versa. Portanto, existe a harmonia de movimentos e pensamentos. Quando um hemisfério é lesionado, ele não inibe o outro e esse trabalho excessivo do lado saudável, acaba deixando o lesionado mais inibido. Geralmente, ocorre na fase aguda das lesões e melhora com um bom tratamento.
- Substituição comportamental: Quando ocorre a lesão e afeta uma musculatura, existe a compensação para a realização do movimento afetado.
Algumas Doenças Tratadas Na Fisioterapia Neurofuncional
Acidente Vascular Cerebral
O AVC é a principal causa de incapacidade entre adultos. Aproximadamente, 75% das vítimas não fatais acabam não retornando para suas atividades¹. Dessa forma, ele também pode ser chamado de Acidente Vascular Encefálico ou popularmente de derrame.
Caracteriza-se pela alteração súbita do fluxo sanguíneo cerebral. Dessa forma, ele compromete a circulação sanguínea no cérebro. Quando não chega oxigênio e nutrientes para as células, lesões acontecem.
Assim, ao ocorrer o entupimento de uma das artérias, seu nome é AVC isquêmico e quando acontece o vazamento de sangue nas artérias, damos o nome de AVC hemorrágico.
As lesões causadas pelo AVC são:
- Alteração e perda dos movimentos;
- Alterações de compreensão;
- Alterações na fala;
- Alteração de percepção de mundo.
Essas consequências variam de acordo com a região afetada e a extensão da lesão.
Em suma, a fisioterapia neurofuncional estará atuante na vida desse paciente desde o hospital. Em casos assim, a reabilitação precisa ser no momento que o médico liberar. Dessa forma, o cérebro consegue trabalhar em novos meios de reconectar as sinapses.
Paralisia Cerebral
Portanto, definimos a Paralisia Cerebral como uma lesão cerebral adquirida na gestação, no nascimento ou no período neonatal. Essa lesão é permanente e afeta tanto o desenvolvimento motor quanto o cognitivo da criança.
A causa mais conhecida é a hipóxia que se refere a falta de oxigenação do cérebro da criança que acaba ocasionando lesões irreversíveis.
Apesar de ser um problema limitante, a fisioterapia neurofuncional é essencial para que a vida do paciente com PC possa ser melhor. Além de trabalhar com as dificuldades motoras, muitos pacientes precisam de reabilitação respiratória.
Doença de Parkinson
Em suma, a doença afeta o comprometimento dos neurônios da substância nigra. Isso diminui a produção de dopamina e consequentemente, causa a perda de memória, cognição e processamento de informações.
O paciente acaba desenvolvendo uma série de limitações ao longo da doença como a lentidão dos movimentos, o tremor em repouso, rigidez nas articulações e instabilidade na postura, levando o corpo para frente e aumentando o risco de quedas.
Dessa forma, a fisioterapia neurofuncional entra no tratamento desde o início para retardar os efeitos físicos da doença, promovendo o reforço muscular, o trabalho intelectual e evitando que os sintomas piorem rapidamente.
Alzheimer
É descrito como uma doença que afeta o Sistema Nervoso e causa desorientação, dislexia, afasia de compreensão, além da perda da memória que é o sintoma mais característico do Alzheimer.
O trabalho da fisioterapia neurológica é retardar a piora do quadro clínico, mantendo o paciente sempre ativo. Infelizmente, não há cura e o processo é degenerativo. Portanto, o fisioterapeuta trabalha com a resistência e reforço muscular, além de incentivar a mobilidade do paciente.
Trauma Cranioencefálico (TCE)
Em suma, é uma lesão física ao tecido cerebral que pode ter consequências temporárias ou permanentes. Algumas das causas são as quedas, acidentes de carro e moto, agressões e traumas esportivos.
No início, o tratamento se baseia em monitorar as funções respiratórias do paciente e, em casos mais graves, opta-se por cirurgias.
A fisioterapia neurológica entra na fase de recuperação motora, seja os danos permanentes ou não. O profissional trabalha com o ganho de força e em casos onde não há responsividade do paciente, ele mantém a mobilidade das articulações.
Conclusão
A fisioterapia neurofuncional pode se fazer presente em várias outras doenças como as lesões medulares e a esclerose múltipla que também afetam o Sistema Nervoso.
Apesar de desempenhar um trabalho específico em cada caso, sua função principal sempre será melhorar a qualidade de vida do paciente através de exercícios e a socialização.
Em suma, esse profissional deve se capacitar sempre, buscando novas técnicas além de manter o seu foco no bem-estar do paciente, independente do protocolo a ser seguido. Existem momentos que o paciente neurológico só deseja a companhia e alguém para conversar.
Portanto, o lado humano sempre deve ser umas das pautas desse profissional durante a sessão.
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