O que é insuficiência mitral?
A INSUFICIÊNCIA mitral é uma doença cardíaca comum, porém grave e de difícil controle, na qual o indivíduo pode permanecer assintomático durante longos anos.
É uma doença valvar que acontece com mais frequência nos países desenvolvidos, prevalecendo em aproximadamente 7 a 10% da população com idade superior a 75 anos.
O músculo cardíaco é constituído por quatro câmaras – sendo dois átrios e dois ventrículos – e quatro válvulas, sendo a mitral, aórtica, tricúspide e pulmonar.
A válvula mitral está localizada entre o átrio e o ventrículo esquerdo, como forma de assegurar que o sangue flua unidirecionalmente do átrio para o ventrículo.
Quando ocorre alterações estruturais, essa válvula faz o sangue retornar para o átrio esquerdo. Ou seja, na insuficiência mitral, ocorre a regurgitação sanguínea para o átrio esquerdo durante a sístole ventricular.
Classificação da insuficiência mitral
Essa doença pode ser classificada em primária ou secundária. A insuficiência mitral primária é ocasionada por uma deformidade estrutural valvar, tendo as suas principais causas o prolapso valvar mitral, a febre reumática, traumas e as deformidades congênitas.
Já a insuficiência mitral secundária está associada a alguma outra doença cardíaca, relacionada à cardiomiopatia ou disfunção ventricular esquerda.
Dentre todas as causas, a mais comum é a doença degenerativa tipo prolapso, onde ocorre uma alteração no formato de partes da válvula mitral, provavelmente devido ao aumento da longevidade da população.
A insuficiência mitral acomete principalmente pessoas do sexo feminino, afetando prioritariamente ambas as cúspides.
Quais são os sintomas da insuficiência mitral?
A maioria dos pacientes portadores de insuficiência mitral que buscam auxílio médico apresentam como sintomas dispneia em repouso ou noturna, congestão pulmonar, cansaço, palpitações, coração acelerado, tosse, edema e inchaço, principalmente nos pés e tornozelos.
Como é o diagnóstico da insuficiência mitral?
Sobre o diagnóstico, o ecocardiograma transtorácico é o principal exame utilizado para definir a manifestação e gravidade anatômica da insuficiência mitral. Inúmeros parâmetros podem ser utilizados e, de modo geral, um exame detalhado e completo é de grande relevância.
Pacientes com insuficiência mitral discreta ou moderada devem realizar periodicamente acompanhamento clínico e ecocardiográfico, sem intervenção farmacológica ou cirúrgica para interrupção do histórico natural da doença valvar.
No entanto, pacientes com insuficiência mitral importante devem manter um cronograma de avaliação específica, analisando sintomas secundários à valvopatia e presença de fatores agravantes.
Mesmo que o principal sintoma de insuficiência mitral, sendo a dispneia, não limite as atividades habituais, o sintoma precisa ser valorizado e avaliado.
Havendo dúvidas sobre a presença de sintomas, é comum que o médico solicite o teste ergométrico ou ergoespirométrico. Confirmada a presença de sintomas, sendo secundários à insuficiência mitral, os pacientes devem receber indicação de intervenção da valvopatia.
Pacientes assintomáticos devem ser reavaliados periodicamente para verificar a possibilidade de alterações anatômicas e funcionais secundárias à doença valvar.
Como é o tratamento da insuficiência mitral?
O tratamento da insuficiência mitral depende da gravidade da doença. Consiste, basicamente, em abordagem medicamentosa, ressincronização ou cirurgia.
O tratamento melhora os sintomas clínicos, mas quando está presente a disfunção ventricular residual, o prognóstico pode ser desfavorável, a médio prazo.
O tratamento cirúrgico deve ser realizado, de preferência, logo após o diagnóstico, quando o paciente começa a apresentar os primeiros sintomas associados à disfunção ventricular esquerda.
O tratamento tem como objetivo restabelecer o desempenho da válvula mitral, sendo possível realizar a troca ou uma plástica valvar.
O paciente sem contraindicações, que recebeu a confirmação da presença de insuficiência mitral importante, manifestando sintomas secundários e complicadores, deve receber indicação de intervenção da valvopatia.
A cirurgia de plástica valvar é o tratamento de escolha, caso as condições sejam favoráveis, e o procedimento deve ser realizado por um cirurgião experiente e capacitado para tal. Caso contrário, a recomendação é a cirurgia da troca valvar mitral.
A plástica valvar mitral é considerada como uma excelente escolha de intervenção terapêutica, visto que apresenta menores índices de mortalidade e de reoperação, além de menor incidência de endocardite infecciosa.
Mas, apesar das recomendações, cerca de 50% dos pacientes com insuficiência mitral não são tratados cirurgicamente, por apresentarem alto risco devido à idade avançada e a presença de comorbidades.
Considerações finais
A insuficiência da válvula mitral é uma doença que necessita de acompanhamento periódico por profissional especializado e capacitado. Procure um cardiologista da sua confiança para tirar suas dúvidas sobre o melhor tratamento aplicado de acordo com o seu caso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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