Alguns pacientes com dor crônica torcem o nariz diante da indicação médica da fisioterapia. Na maioria das vezes, esse comportamento se deve ao fato de que, no passado, houve alguma experiência cujo resultado não foi positivo.
Há também aqueles que simplesmente prefeririam tomar uma pílula para se livrarem do problema que os aflige.
A essas pessoas é essencial explicar o papel dessa prática. Quando o paciente compreende que a fisioterapia pode ser tão efetiva quanto o uso de fármacos, mas sem o risco dos efeitos colaterais, as chances de sucesso do tratamento aumentam.
O conhecimento que temos sobre a dor, até o momento, é que ela é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada ou semelhante a algum dano real, ou potencial de um tecido.
Cada pessoa a sente de forma diferente, porque ela é influenciada por fatores biopsicossociais. Isso significa que a dor não deve ser compreendida somente por meio do entendimento da ação dos neurônios sensoriais ou de uma lesão real, e nem mesmo pelo modo como o indivíduo a descreve.
Essas características fazem do tratamento da dor um quebra-cabeça que exige a atuação colaborativa de vários profissionais para resolvê-lo. A esse grupo chamamos equipe multidisciplinar.
O fisioterapeuta é um dos especialistas que integra os melhores centros para tratamento da dor na rede pública e privada do país.
Afinal, embora esse mal-estar seja um dos motivos mais comuns da procura por ajuda médica, em muitos dos casos não haverá necessidade de tratamento complexo. Quando a dor é crônica, com o devido suporte terapêutico, ela pode ser controlada com o tempo.
Entenda o valor do fisioterapeuta
A fisioterapia é uma ciência que se dedica ao estudo, diagnóstico, prevenção e reabilitação de órgãos e sistemas do corpo, além dos movimentos funcionais. Assim, o trabalho do fisioterapeuta é preservar, manter, desenvolver ou restaurar (reabilitação) a integridade de órgãos, sistemas ou funções.
Como o fisioterapeuta é um dos especialistas mais informados sobre os movimentos terapêuticos e exercícios, ele sempre é chamado para intervir quando o objetivo do tratamento é reduzir a dor e otimizar as funções de pessoas com problemas musculoesqueléticos.
A depender de cada quadro clínico, esse profissional pode lançar mão de várias práticas.
Conheça suas principais abordagens:
Educação e aconselhamento – é função do fisioterapeuta observar o paciente de forma integral, e não apenas focar nos pontos de dor. A partir dessa perspectiva, podem ser sugeridas mudanças no estilo de vida para garantir ou aprimorar o bem-estar (exercícios regulares/peso saudável em relação à altura e idade). Além disso, ele poderá ajudá-lo a adotar estratégias para reduzir o risco de ter dor ou novas lesões;
Exercício e movimento – para ajudá-lo a melhorar a mobilidade, as funções e a dor no longo prazo, além de reduzir o risco de novas lesões, o fisioterapeuta deve recomendar mais movimento e exercício, como alongamentos específicos. Ele poderá, também, indicar práticas que envolvam mover todo o corpo como andar ou nadar, além de hidroterapia – que visa o relaxamento muscular e ainda garante resistência. Cabe a esse especialista indicar o uso de acessórios que facilitem o movimento (muleta, bengala);
Terapias manuais – são técnicas nas quais se usa a mão para manipular, mobilizar e massagear os tecidos do corpo. Elas são úteis para aliviar a dor e a rigidez, ativar a circulação, facilitar a drenagem de fluídos de determinadas parte do corpo, melhorar o movimento e promover o relaxamento. Utilizadas mais comumente para tratar a dor nas costas, podem beneficiar pessoas com dores musculoesqueléticas, além de garantir melhora da qualidade de vida entre indivíduos com doenças crônicas (inclusive pulmonares), reduzindo ansiedade e facilitando o sono.
Outras técnicas
Entre os fisioterapeutas também é comum o uso das seguintes práticas:
TENS (Estimulação Elétrica Transcutânea do Nervo) – trata-se de um pequeno equipamento que é utilizado para levar estímulos elétricos na área afetada. O objetivo é reduzir a dor;
Ultrassom – ondas de alta frequência tratam lesões em tecidos mais profundos por meio da estimulação da circulação sanguínea e da atividade celular. O resultado esperado é o alívio da dor e do espasmo, além de acelerar a recuperação.
Sim, você pode, e deve!
Ao observarmos o conjunto das técnicas utilizadas pelo fisioterapeuta concluímos que a sua atuação se baseia não só na educação sobre estratégias capazes de eliminar, reduzir e prevenir a dor, mas também na motivação do paciente para que ele se envolva no próprio tratamento.
Ao contrário do que muitos pacientes pensam, uma sessão de fisioterapia não é apenas a prática de movimentos repetitivos, ou a mera aposição de um eletrodo sobre um nervo que insiste em incomodar.
O fisioterapeuta sabe que, para quem está sentindo dor, cada movimento é um desafio e que pode ser muito difícil completar determinada série de exercícios proposta.
Contudo, o especialista também tem conhecimento de que se manter passivo e inativo é a porta de entrada para a piora da dor. Afinal, os músculos precisam de apenas uma semana de cama para começarem a atrofiar e enrijecer!
Para tomarem melhores decisões sobre a saúde, é preciso que as pessoas estejam dispostas a conhecer a própria dor, bem como as opções disponíveis para gerenciá-la – dentro e fora do consultório.
Menos remédio, mais ação
Esse é o entendimento da IASP (sigla em inglês para Associação Internacional para o Estudo da Dor), que também chama a atenção para o fato de que embora os fisioterapeutas não tenham a incumbência do tratamento medicamentoso, eles são treinados para saber como os fármacos funcionam, e quais são seus riscos e benefícios.
Em todo encontro, o fisioterapeuta deve avaliar progressos, estabelecer metas que possam beneficiar o paciente. O que se espera de tais ações é que elas resultem na redução de doses ou na cessação do uso de analgésicos, a critério do médico.
Como a dor é uma experiência pessoal e dependente de vários fatores, pode acontecer de essas práticas não surtirem o efeito desejado. Mas maioria das vezes, a parceria entre médico, paciente e fisioterapeuta é bem sucedida.
O que diz a ciência
Dados sobre medicina baseada em evidências da Cochrane, organização que se dedica a elaborar, manter e divulgar revisões sistemáticas de pesquisas científicas, concluem que as intervenções são, sim, efetivas, a depender de determinados quadros clínicos.
Uma recente revisão de estudos publicada pelo jornal Physiotherapy Theory and Practice, concluiu que a utilização de estratégias de educação para a dor, em conjunto com intervenções realizadas por fisioterapeutas, tem efeito benéfico moderado a grande na dor, assim como na deficiência (funções).
Já outra pesquisa avaliou os efeitos da fisioterapia entre pacientes com dor pós-cirúrgica.
A conclusão à qual chegaram os cientistas é que a fisioterapia pode ter um impacto positivo não só no controle da dor, como também em uma série de situações como a qualidade de vida, as funções físicas e até a depressão. Os dados foram publicados pela revista on-line Plos One.
Dicas de autocuidado
Para ter uma postura mais ativa e colaborar com o trabalho do fisioterapeuta, sempre sugiro colocar em prática as seguintes estratégias:
Movimente-se mais. Caminhar, nadar são exemplos de práticas que aumentam os níveis de substâncias químicas que atuam como analgésicos (endorfinas). Exercícios também aliviam a tensão e a rigidez de músculos, articulações e ligamentos, além de prevenirem o ganho de peso, o risco de doenças do coração, osteoporose, problemas de equilíbrio e quedas;
Invista em técnicas de relaxamento. Exercícios respiratórios e meditação são úteis para reduzir a dor e a tensão muscular, e ainda melhoram a qualidade do sono;
Dedique-se a um novo passatempo. Escolha algo que lhe interesse ou lhe dê prazer. Fotografia e tricô podem ser feitos mesmo por aqueles que têm restrição de movimentos;
Pratique higiene do sono. Promova oportunidades de ter uma boa noite de sono adotando estratégias como dormir e acordar no mesmo horário todos os dias, evitar sonecas durante a tarde. Caso a insônia persista, informe ao seu fisioterapeuta.
Mantenha-se em contato com amigos e familiares. O contato social é importante para manter seu bem-estar. Enquanto se mantém a sugestão de distanciamento social, tire proveito da tecnologia e faça chamadas de vídeo para conversar, desde que não seja sobre a sua dor.
Como a fisioterapia ajuda a tratar a dor
A fisioterapia é o meio pelo qual a dor pode ser tratada sem o uso de medicamentos ou intervenção cirúrgica. O trabalho do fisioterapeuta é preservar, manter, desenvolver ou restaurar (reabilitação) a integridade de órgãos, sistemas ou funções. Veja as diferentes situações que podem ser a causa da dor e nas quais esse profissional pode atuar:
Lesões esportivas: atletas costumam levar a sua performance ao limite. Por isso, entre eles, é comum a ocorrência de fraturas, rompimento de tecidos e ligamentos, além de entorses.
Acidentes ou traumas: ferimentos após acidentes podem limitar movimentos, e a maioria deles requer fisioterapia para ajudar o paciente a voltar às suas atividades.
Pós-cirurgia: depois de uma intervenção cirúrgica, especialmente as ortopédicas, a fisioterapia é sempre necessária. Mas não só. Outros tipos de cirurgia podem requerer algum tipo de reabilitação.
Fisioterapia geriátrica: com o envelhecimento, aumentam as chances de acidentes e quedas. Além disso, esse processo degenerativo pode enfraquecer músculos e enrijecer articulações. A fisioterapia mantém os idosos em forma.
Doenças crônicas: enfermidades como a artrite, o câncer, lesões na coluna, neuropatias periféricas são alguns exemplos de doenças cujos efeitos podem ser minimizados por meio da fisioterapia. Ela garante a manutenção dos movimentos e das funções.
Referências: IASP (International Association for the Study of Pain); Chartered Society os Physiotherapy;
https://www.nhs.uk/conditions/physiotherapy/how-it-works/
Danielle Marris, Kyriakos Theophanous, Pablo Cabezon, Zachary Dunlap & Megan Donaldson (2019) The impact of combining pain education strategies with physical therapy interventions for patients with chronic pain: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials, Physiotherapy Theory and Practice, DOI: 10.1080/09593985.2019.1633714